Americanas e Lula ofuscam Davos em semana turbulenta
Recuperação judicial da varejista e declarações polêmicas do presidente preocupam investidores em semana de desânimos
VEJA Mercado | Fechamento da semana | 16/01 a 20/01
Apesar da última semana ter sido protagonizada por um dos eventos mais importantes para a economia do planeta, o Fórum Econômico Mundial, em Davos, o escândalo centrado na Americanas seguiu dominando a atenção dos investidores. Com dívida estimada em cerca de 43 bilhões de reais, o dobro do anunciado inicialmente, o pedido de recuperação judicial da Americanas foi acatado pela Justiça do Rio de Janeiro na última quinta-feira, 19. A decisão judicial classificou o processo como “uma das maiores e mais relevantes recuperações judiciais ajuizadas até o momento no país”, destacando a repercussão do caso e seu impacto social, dada a quantidade de empresas e indivíduos afetados. Com o regime atual, a Americanas é obrigada a apresentar um plano de recuperação em 60 dias. A empresa acabou excluída do índice Ibovespa em razão da natureza do tombo. Em seu último dia no índice, na sexta-feira, 20, os papéis da companhia derreteram 31%, cotados a apenas 68 centavos.
Já em Davos, sede do Fórum Econômico Mundial, a imagem do Brasil não foi pautada pelo caso Americanas, mas pela participação dos ministros Fernando Haddad e Marina Silva no evento. Os ministros tiveram uma série de encontros com lideranças de peso, a exemplo das reuniões entre Haddad e Ilan Goldfajn, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e Marina Silva e John Kerry, enviado especial para o clima do governo americano. Os representantes da Fazenda e do Meio Ambiente também aproveitaram o evento para contar sobre suas intenções no governo. Haddad agradou o mercado ao revelar que a nova regra fiscal será apresentada até o mês de abril, antes do que era estipulado, e que contará com o apoio do Fundo Monetário Internacional (FMI) em sua elaboração.
Em geral, a presença do Brasil no fórum não causou grande impacto no humor do mercado. Entretanto, outra sinalização vinda do governo federal incomodou significativamente investidores. Tratam-se de falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista à GloboNews na última quarta-feira, 18. Ao chamar a autonomia do Banco Central de “bobagem” e criticar a atual meta de inflação, que seria ambiciosa demais, Lula transpareceu despreocupação perante o problema do aumento de preços. Em reação ligeira, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tentaram pôr panos quentes na situação. Padilha chegou a afirmar textualmente em uma rede social que “não há nenhuma pré-disposição por parte do governo de fazer qualquer mudança na relação com o Banco Central”, a fim de tentar apaziguar a relação entre Lula e o mercado.
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