Um setor fadado ao fracasso: RJ da Azul expõe as mazelas da aviação
VEJA Mercado: Azul segue passos de Latam e Gol e recorre ao Chapter 11 para garantir a sobrevivência em um segmento cada vez mais impróprio para os negócios
A companhia aérea Azul entrou com um pedido para entrar no regime de Chapter 11 nos Estados Unidos, que nada mais é que o mecanismo de recuperação judicial do país. A ação é simbólica: nos últimos quatro anos, as três únicas empresas aéreas que operam no Brasil precisaram recorrer ao socorro nos EUA. A Latam foi a primeira, a Gol foi a segunda e, agora, a Azul fecha a trinca. “O setor aéreo é uma receita pronta para o fracasso. Não há possibilidade de dar certo nos moldes brasileiros. O ambiente de negócios no Brasil é impróprio para esse ramo, não há como nenhuma companhia aérea dar certo no país”, diz Felipe Sant’Anna, especialista em investimentos da Axia Investing, em entrevista ao programa VEJA Mercado.
O setor tem mais da metade das suas despesas em dólares e toda a receita em reais, sujeita às intensas variações do câmbio no Brasil. Não à toa as passagens aéreas são um dos itens de maior imprevisibilidade e volatilidade na medição oficial de inflação no país.
Para piorar, o ambiente de negócios no Brasil em nada ajuda as empresas. A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) calcula que, desde 2020, o número de processos contra as companhias cresce a uma média de 60% por ano. O custo da judicialização excessiva também é repassado para o consumidor e compromete ainda mais os balanços das empresas. “É imperativo que o governo reduza taxas e impostos e flexibilize regras para as companhias abastecerem suas aeronaves para o mercado interno. Ajudar as companhias aéreas não é dar dinheiro, é dar condições para que as companhias se desenvolvam. Se o governo e a população ficarem numa briga contra as companhias com o excesso de judicializações, em breve talvez nenhuma empresa sobreviva nesse mercado”, afirma Sant’Anna.