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A Decisão Colegiada na Governança Corporativa

A força do colegiado está em exigir análises adicionais, testar hipóteses e frear impulsos individuais

Por Fabio Malina Losso
25 ago 2025, 15h21

Imagine se o destino de uma empresa bilionária dependesse exclusivamente das decisões de uma única pessoa. Parece arriscado? Pois deveria. A história corporativa está repleta de exemplos de líderes poderosos que, sozinhos no comando, levaram suas empresas à ruína por excesso de confiança, visão distorcida ou simples interesse pessoal.

É por isso que as corporações modernas adotaram um princípio fundamental: decisões críticas devem ser tomadas coletivamente. Não se trata de ritual burocrático, mas de um pilar de eficiência que assegura transparência e qualidade às escolhas empresariais.

A teoria econômica da firma buscou explicar por que empresas existem. Ronald Coase, da Universidade de Chicago, propôs que firmas surgem para reduzir custos de transação – hierarquias internas coordenam a produção mais eficientemente que contratos de mercado quando estes são custosos. Porém, conforme as firmas cresceram, propriedade e controle se separaram. Em grandes corporações, acionistas dispersos cedem controle a gestores profissionais com pouca participação acionária. Essa separação criou o “conflito de agência”: gestores podem perseguir seus próprios interesses em detrimento dos proprietários.

A resposta institucional veio com a valorização do conselho de administração, instância que carrega legitimidade para supervisionar executivos em nome dos investidores. Eugene Fama e Michael Jensen identificaram a separação entre “gestão de decisões” e “controle de decisões” como elemento crucial: executivos propõem e implementam; conselhos ratificam e monitoram. O colegiado não é apenas mecanismo de controle – é a forma institucionalizada de preservar a lógica de mercado diante do risco de apropriação privada do valor coletivo.

Stephen Bainbridge, da UCLA, observa algo fascinante: em ambiente corporativo dominado pela hierarquia, o topo funciona paradoxalmente por consenso. Por que empresas que dependem de comando colocam em seu ápice um grupo que funciona por deliberação coletiva? A resposta está na evidência empírica: grupos bem estruturados tomam melhores decisões que indivíduos isolados quando o assunto é complexo. Quando um conselho diverso debate uma aquisição milionária, cada conselheiro traz expertise específica – o financeiro questiona projeções, o advogado alerta sobre riscos regulatórios, o estrategista avalia sinergias.

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A economia comportamental nos ensinou que executivos brilhantes são vítimas de armadilhas mentais. O indivíduo está sujeito a vieses cognitivos – do excesso de confiança ao viés de confirmação. Quando decisões relevantes dependem da visão exclusiva de um líder, o risco de erro se amplifica exponencialmente. A deliberação colegiada permite confronto de perspectivas, reduzindo cegueiras individuais.

Por outro lado, colegiados também podem trazer armadilhas: polarização, formação de blocos decisórios inflexíveis. Para mitigá-las, conselhos devem cultivar diversidade de formação e experiências; promover debate franco onde discordar é seguro; garantir informação completa, não filtrada por executivos controladores; e tempo adequado para reflexão.

Permeiam o noticiário crises empresariais marcadas por decisões precipitadas de executivos isolados causaram prejuízos significativos. Em contraste, empresas que cultivam debate aberto em seus conselhos atravessam turbulências preservando valor. A força do colegiado está em exigir análises adicionais, testar hipóteses e frear impulsos individuais.

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Em tempos de mudanças aceleradas, nenhuma mente individual consegue processar todas as variáveis relevantes. A tentação do comando unipessoal é compreensível pela aparente eficiência, mas pode esconder custos devastadores.

A boa governança não se mede pela velocidade de resposta, mas pela solidez das escolhas. Na corporação que pretende atravessar gerações, as melhores decisões são fruto do “nós”, não do “eu”. Por isso, quando ouvir falar de CEO todo poderoso tomando decisões unilaterais, preocupe-se. A sabedoria coletiva dos conselhos não é luxo democrático – é necessidade estratégica para navegarmos a complexidade do mundo corporativo contemporâneo.

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