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“A gente segue, apesar de tudo”, diz Anielle Franco em discurso no MJ

A ministra não comentou a acusação de importunação sexual contra o ex-colega Silvio Almeida, em seu primeiro evento público desde a demissão dele

Por Gustavo Maia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 17 set 2024, 17h28 - Publicado em 17 set 2024, 15h53

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, participou nesta terça-feira, 17, do primeiro evento público desde a demissão de Silvio Almeida, que teria praticado importunação sexual contra ela. Almeida foi demitido pelo presidente Lula do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania no último dia 6. Anielle tirou férias na semana passada e retornou ao trabalho nesta segunda.

Na manhã desta terça, ela fez um breve discurso durante o seminário “Mulheres na liderança por um Brasil mais seguro”, promovido pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. Durante sua fala, de pouco mais de cinco minutos, ela não fez referência ao episódio, mas destacou a importância dos avanços no atendimento a mulheres vítimas de violência.

Também ressaltou a necessidade de que os espaços de trabalho sejam “verdadeiramente seguros e acolhedores” para mulheres e se despediu dizendo que “a gente segue apesar de tudo, a gente sempre vai seguir”.

A acusação de importunação sexual ficou mantida sob sigilo por mais de um ano e veio à tona após publicação do portal Metrópoles, no início do mês. A PF instaurou um inquérito para apurar o caso.

Veja a seguir a fala completa de Anielle:

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“Eu queria dizer que é uma honra cada vez que a gente consegue entrar num espaço como esse e onde a gente consegue ter a certeza de que fortalecer mulheres e fortalecer esse país também através do nosso olhar é fundamental. Nesse um ano e nove meses de governo Lula a gente já avançou com muitas ações e a gente vê que o nosso país voltou a crescer, que o nosso povo voltou a ter esperança e que as pessoas mais vulnerabilizadas também voltaram a ser cuidadas. A gente nunca investiu tanto na redução da violência letal e no combate à violência contra as mulheres, e, principalmente, na valorização dos profissionais e servidores que sustentam esse país. Nós somos parte dessa transformação.

Sabemos a importância de nós, mulheres, estarmos cada vez mais em espaços de liderança, porque muitos dos desafios que ainda vivemos só têm começado a mudar porque a gente está aqui, mesmo nas dificuldades, mesmo nas dificuldades, mesmo nas violências cotidianas, mesmo testadas todos os dias, transformando os espaços de poder e transformando o nosso país.

Acredito firmemente que, quando falamos em segurança pública, é fundamental construir, obviamente com agentes públicos do Estado, por exemplo, para que eles e elas que estão na ponta, comprometidas com a política de valorização de todas as vidas, e são essas pessoas que reconhecem as urgências diárias de transformar esse sistema. São muitas as conquistas das mulheres no campo de segurança pública, por exemplo a delegacia especializada de atendimento à mulher, que proporciona o acolhimento mais humanizado, acolhedor, para a proteção de mulheres brasileiras e, principalmente, para o avanço das denúncias e investigações sobre essas violências. Não à toa, foi uma política pública pensada por mulheres e para mulheres. Uma conquista histórica que reforça o papel preponderante de nós, mulheres, na construção de outros paradigmas da segurança pública no Brasil.

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A gente vê, e a ministra [das Mulheres] Cida [Gonçalves] é uma das maiores articuladoras dessas políticas há muitos anos, quanto o tema de enfrentamento da violência doméstica cresceu e se aproximou no Brasil. A Lei Maria da Penha é a terceira melhor do mundo nesse enfrentamento porque cria um sistema de proteção complexo, integra instituições, estados e municípios, prevê a realização de pesquisas, geração de dados, de campanhas de conscientização para mudanças de estereótipos e mexe também nos currículos escolares de todos os níveis de ensino. Ou seja, uma verdadeira revolução no enfrentamento à violência nos papéis de instituições de segurança pública, gestada e estruturada pelo movimento de mulheres. […]

As conquistas das mulheres no campo da segurança pública mostram como é importante pensar a segurança não somente no aspecto repressivo. Pensar a prevenção, a proteção, o atendimento humanizado são os pilares de uma política de segurança mais eficaz, porque não nos preocupamos apenas em dar uma resposta após a violência. A gente quer chegar antes de a violência acontecer. E isso, sim, é transformador.

A diversidade em posições de liderança não é apenas uma questão de justiça ou representatividade, é uma questão de eficiência. Equipes diversas, tanto em gênero quanto em raça, são capazes de elaborar melhor os diagnósticos e soluções e de tomar decisões mais equilibradas e abrangentes.

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Eu comecei a minha fala destacando a importância de nós, mulheres, estarmos em espaços de poder, transformando nosso país, e aqui eu quero abraçar cada uma de vocês que também têm jornadas triplas, duplas de trabalho. Para além de servidoras, profissionais dos mais diversos campos, lideranças de soluções de crises diversas no Brasil, nós somos também mães, esposas, filhas, enfim, e seguimos avançando incansavelmente, dia após dia, construindo um futuro possível, sem violência, com paz e e dignidade.

Sabemos a importância de mudarmos a fotografia do poder, como muito bem diz [a socióloga] Vilma Reis, mas eu não vou cansar de falar também que, para transformar a fotografia do poder de fato é necessário avançarmos para além dos discursos, precisamos seguir avançando com práticas e políticas que nos permitam não só acessar, mas permanecer nesses espaços de decisão, para que nossos espaços de trabalho sejam verdadeiros seguros e acolhedores, para que possamos exercer o nosso trabalho de forma plena. Tenho certeza que esse é um compromisso deste governo.

Quero terminar minha fala agradecendo a cada uma que está aqui por não desistir e por seguir em frente, apesar de cada violência que diariamente tenta nos afetar e nos impedir. Eu quero olhar aqui para esse auditório e lembrar que muitas das vezes, mesmo nas dificuldades, nós não estamos sozinhas e acho que nunca estaremos sozinhas. Porque se a gente passa o microfone para cada uma de vocês, certamente a gente teria muitas histórias em comum e por esse motivo, assim também como diz Conceição Evaristo, nossas ‘escrevivências’ nos moldam e fazem com que a gente possa seguir lutando por um projeto político de país que a gente acredita. E nesse projeto político de país que eu acredito e que certamente vocês também acreditam, passa por termos lugares como esse, mulheres a frente de espaços de poderes de decisão sendo protagonistas de suas histórias sem que nenhuma pessoa possa tirá-la apenas por violentar.

Quero encerrar aqui a minha fala dizendo que, assim como a audácia de Carolina Maria de Jesus, a gente segue apesar de tudo e a gente sempre vai seguir. Então olhar nos olhos de vocês e dizer: contem com o Ministério da Igualdade Racial, contem com a ministra Anielle Franco, mas acima de tudo, e anteriormente a tudo isso, contem a Anielle mãe, filha, esposa e irmã de Marielle também, com muito orgulho. Muito obrigada.”

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