Ao lado de Lula no Planalto, Mujica manda duro recado a Biden
Uruguaio participou de evento em Brasília; para ele, presidente americano não atuou para quebrar patentes de vacinas da Covid-19
O ex-presidente do Uruguai José Mujica fez duras críticas ao presidente dos EUA, Joe Biden, durante um encontro com Lula no Palácio do Planalto nesta quarta-feira.
Aliados de longa data, Mujica e Lula participaram em Brasília de uma reunião da Confederação Sindical das Américas, organização presente em 21 países e que representa 55 milhões de trabalhadores.
O político uruguaio criticou, durante o seu discurso, a falta de coordenação regional entre os países americanos no combate à Covid-19 e também a concentração do conhecimento sobre a produção de vacinas em países da Europa, nos EUA e na China.
Mujica lembrou que Biden, pouco depois de ser empossado presidente dos EUA, disse apoiar a quebra de patentes das vacinas contra a Covid-19, mas depois não tocou mais no assunto.
“Vimos que o segundo discurso do Biden nos EUA mencionou sobre o acordo para trazer patentes coletivas [para vacinas], mas depois ele calou a boca. A China tinha conhecimento, a Rússia tinha conhecimento, a Europa tinha conhecimento e os EUA tinham conhecimento e calaram a boca quando deviam lutar para multiplicar a produção de vacinas para salvar vidas”, disse.
Mujica defendeu a união dos países do continente americano, independentemente da orientação política de seus líderes, como forma de se contrapor à hegemonia dos países desenvolvidos nas discussões econômicas e sociais.
“Essa é uma lição que precisamos aprender. Precisamos nos unir para defender o nosso comércio, as nossas leis e para auxiliar os nossos trabalhadores. Eles acabam impondo as regras deles como se essas regras fossem do mundo inteiro, inclusive as regras financeiras, e nós ficamos padecendo. Isso é histórico”, disse.
Leia a íntegra do discurso de Mujica nesta quarta
Nós das Américas representamos 6% ou 7% da população mundial, mas tivemos 30% das vítimas de Covid-19. Não houve nenhuma reunião das Américas, dos presidentes das Américas, que viessem a trabalhar conjuntamente. Sabemos que temos quatro ou cinco países que podem fabricar vacinas e nós não pudemos lutar como um verdadeiro continente em prol das vidas dos nossos filhos.
Não pudemos tampouco trabalhar de forma unida e precisamos ter consciência das nossas fraquezas para nunca mais cometermos esse erro, de não termos coragem de nos unir para nos defender. Ou seja, junto com Brasil, Colômbia, Chile, com a esquerda e com a direita nos defendermos como América.
Isso porque? Por que ninguém vai nos dar os nossos direitos e a nossa prosperidade se não soubermos lutar por isso conjuntamente. Vimos que o segundo discurso do Biden nos EUA mencionou sobre o acordo para trazer patentes coletivas [para vacinas], mas depois ele calou a boca.
A China tinha conhecimento, a Rússia tinha conhecimento, a Europa tinha conhecimento e os EUA tinham conhecimento e calaram a boca quando deviam lutar para multiplicar a produção de vacinas para salvar vidas
Essa é uma lição que precisamos aprender. Precisamos nos unir para defender o nosso comércio, as nossas leis e para auxiliar os nossos trabalhadores. Eles acabam impondo as regras deles como se essas regras fossem do mundo inteiro, inclusive as regras financeiras, e nós ficamos padecendo. Isso é histórico
Daqui a pouco haverá uma grande discussão entre Europa e América. E aí? O que vamos levar até eles? Dez, quinze discursos diferentes ou um só discurso, com um acordo continental sobre o que temos que dizer? E queremos chamar o Brasil para nos representar.
Precisamos ter coragem porque o Brasil é grande e forte, mas ele não vai ter a força necessária se não unirmos todos para modificarmos as regras. Ninguém vai nos dar de presente a nossa prosperidade.
Isso não é algo de esquerda ou direita. É algo que diz respeito a não continuarmos sendo bobos, estúpidos, porque sabemos que os trabalhadores perdem parte dos seus salários porque existe a grande burguesia que sabemos que essa pouca grande burguesia latino-americana também acaba perdendo porque sabemos que para produzir e vender é necessário trabalhar com o menor preço possível.
E quando dependemos do sistema financeiro internacional, das regras que eles estabeleceram, dos regimes de transporte estabelecidos por eles, vemos que os benefícios vão para outros lugares do mundo e não chegam até nós. Sabemos que somente nos unindo é que poderemos começar a mudar as regras do jogo.
Obrigado Lula por ter chegado até aqui e nos trazer esperança. Você viverá para sempre. Um grande abraço.