As cartas de Costa e Anastasia na eleição mineira

Chegou a hora: depois de meses esquentando as turbinas, as campanhas de Hélio Costa e Antonio Anastasia partem de verdade para a briga partir de amanhã. Nos próximos dias, Hélio Costa deslanchará uma ação de marketing na qual aposta alto. Vai colar sua imagem à de Patrus Ananias, o vice petista.

Depois de exaustivas pesquisas qualitativas, Duda Mendonça sacou o que imagina ser a chave para a vitória: usar a força do executor do Bolsa-Família e sua boa imagem. Duda quer também ganhar o voto do eleitor petista, um sujeito que, em condições normais de temperatura e pressão, rejeita Costa e tudo o que ele representa.

Assim, Minas Gerais será tomada por um singular cartaz. Nele, Costa aparecerá ao lado de Patrus, com retratos do mesmo tamanho. Abaixo da foto, o slogan bolado por Duda proclamará: “Dois grandes homens, um só governo”.

Um raro caso em que um vice pode ajudar de fato o cabeça de chapa. Costa, apesar de estar na política desde 1986, de ser senador e de já ter disputado o governo do estado, é visto pelo eleitor apenas como…”mais um político”. O mineiro não consegue identificar nele qualquer atributo positivo ou uma ação que tenha feito em benefício de Minas.

Do outro lado do ringue, Aécio Neves está preocupado. Mesmo tendo em mãos pesquisas mostrando que apenas 30% dos mineiros identificam Antonio Anastasia com ele, imaginava que poderia ter chegado em agosto numa situação mais confortável.

Se tivesse olhado para Lula, provavelmente estaria mais tranquilo. Pelo seguinte: Anastasia é uma espécie de Dilma Rousseff de Aécio. Assim como Dilma, Anastasia é um técnico, sem estrada política anterior e que virou candidato a partir de uma escolha de um líder político de popularidade recorde.

A diferença, contudo, é que Lula começou a fazer campanha para Dilma em janeiro de 2009. Aécio só arregaçou as mangas para valer há dois meses. Pelo menos em tese, a hora de Anastasia começar a decolar de fato é a partir de agora — e de modo mais consistente quando os programas de tevê forem ao ar, dentro de duas semanas.

As pesquisas dos últimos dias registram Hélio Costa na faixa dos 40% e Anastasia com a metade desse percentual. A tendência é que essa diferença diminua rapidamente assim que os quase 70% de eleitores forem informados que “Anastásia é o candidato do Aécio”. (Aliás, é quase inacreditável que tanta gente ainda não saiba disso).

A avenida de crescimento de Anastasia, portanto, é larga; a de Costa, não. Em 2008, o candidato de Aécio a prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, passou de 10% para 40% das intenções de votos em somente 15 dias de horário eleitoral gratuito na tevê: quando os eleitores foram informados que Lacerda era o candidato de Aécio, o quadro mudou.

Agora, a subida também acontecerá. Mas, atenção: as condições são diferentes. Em primeiro lugar, em 2008, os candidatos a prefeito dispunham de vinte minutos diários de falação (e o candidato de Aécio ficava com doze minutos desse tempo); agora, os postulantes ao governo têm seis minutos por dia no total (e Anastasia tem a metade disso).

É menos tempo para atrair o eleitor. Além disso, o telespectador terá que dividir sua atenção com candidatos a deputado estadual, federal, senador, presidente…

Outra diferença marcante para Aécio em relação a 2008 é o adversário. Se Costa sozinho não diz muito ao eleitor, seu entorno pode dizer. Além de Patrus, Hélio Costa terá Lula, Dilma e Fernando Pimentel lhe dando luz. Costa sozinho não seria um candidato competitivo. Com esse time, é (ele também terá Newton Cardoso e Anderson Adauto do seu lado, mas tão escondidos quanto possível).

Até o dia da eleição um debate paralelo povoará as discussões em Minas: quem transfere mais votos, Aécio ou Lula? Neste ponto, ressalvando-se que cada eleição tem sua história, é só olhar para o passado para se perceber um eleitor coerente. A transferência de voto é mais eficiente quando é horizontal. Ou seja, um governador indicando um candidato a governador. Mas perde força quando é vertical — um presidente (Lula) apoiando um candidato a governador (Hélio Costa), por exemplo.

O problema para o PSDB é que, se a transferência horizontal pode ajudar o candidato a governador de Aécio, a transferência vertical pode atrapalhar o seu candidato a presidente. Mas essa é outra história.