As surpresas do PSOL com o processo de cassação de Glauber Braga na Câmara
Deputados do partido dizem que Hugo Motta e Arthur Lira trabalharam para garantir aprovação de parecer em votação no Conselho de Ética

Deputados do PSOL disseram que não esperavam a aprovação de um parecer pela cassação de Glauber Braga no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara e veem as digitais de Hugo Motta (Republicanos-PB) e Arthur Lira (PP-AL) na votação, que terminou com placar de 13 a 5 a favor do relatório. A expectativa – que acabou frustrada – era que o relator, Paulo Magalhães (PSD-BA) recomendasse a pena de suspensão.
Na semana passada, a bancada do PSOL pediu à ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) uma intervenção do Palácio do Planalto a favor de Glauber. Nesta quarta-feira, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), foi ao Conselho de Ética apelar ao presidente do colegiado, Leur Lomanto Júnior (União Brasil-BA), pelo encerramento da reunião e adiamento da votação. Tudo em vão.
Aliados de Glauber Braga ficaram revoltados com o atraso na abertura da ordem do dia no plenário da Casa, que teria encerrado imediatamente as reuniões das comissões, inclusive o Conselho de Ética. O deputado Tarcísio Motta (RJ) afirmou que ficou “nítido” que Hugo Motta trabalhou pela cassação de seu colega de partido e o chamou de “pau-mandado” de Lira – a quem, por sua vez, Glauber já chamou de “bandido”.
Ao assumir a presidência da Câmara, Motta se comprometeu com os líderes de bancadas da Casa a sempre iniciar a ordem do dia das sessões plenárias pontualmente às 16h.
Desde então, ele vinha cumprindo o combinado, salvo pequenos atrasos – mas nunca com uma demora de quase três horas, como nesta quarta-feira. Aliados de Glauber Braga estão convencidos de que Motta esperou o fim da votação no Conselho de Ética para iniciar os trabalhos no plenário. Em declarações públicas, passaram a questionar se o paraibano tem mesmo “autonomia” em relação a Lira para presidir a Câmara.
Segundo o deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP), alguns representantes de outros partidos no Conselho de Ética vinham se mostrando reticentes, em conversas reservadas, sobre aprovar o parecer pela cassação de Glauber Braga. Mas reuniões com líderes de bancadas teriam evidenciado a articulação de Lira contra o desafeto e transformado o processo em um “jogo de cartas marcadas”.