O presidente Jair Bolsonaro não tinha necessidade de realizar um pronunciamento nacional. O fez, não para anunciar medidas que tranquilizassem a população, isolada em suas casas com receio de precisar de um sistema de saúde a caminho do colapso, mas para apenas disparar provocações, reduzir a gravidade da pandemia, fazer piadas com sua forma física e, claro, atacar a imprensa.
Bolsonaro, no entanto, acabou produzindo um documento em cadeia nacional. Ao surgir destemido — imprudente? — perante todo o país, Bolsonaro colocou nesta noite o futuro de seu governo nas mãos do vírus. Se a crise, que já matou 46 pessoas no Brasil e todos os dias mata aos milhares pelo mundo, for controlada, sairá com um discurso forte contra quem escolheu a prudência neste momento. Se a crise seguir as previsões do próprio corpo técnico do governo e bater forte por aqui, a conta recairá sobre ele.
Esta noite de 24 de março de 2020 carrega esse simbolismo. O presidente reafirmou todas as suas crenças contra tudo o que vem sendo feito no país e no mundo para combater o coronavírus. Pediu que o povo retornasse às ruas, citou a gripezinha, falou em histeria e acusou governadores — alguns ele encontrará amanhã, em videoconferência — de espalhar o terror. Foi 100% Bolsonaro perante o país e fez sua previsão, jogou os dados. Para o bem da saúde de milhões de brasileiros, tomara que acerte. A sorte de Bolsonaro, no entanto, está unida ao destino da nossa crise.