Lula e Jair Bolsonaro concordam em pelo menos uma coisa. Todo presidente eleito chega ao Planalto com força política e prestígio para implementar no Congresso sua agenda defendida nas urnas. A capacidade de articulação da nova gestão de formar alianças e consensos no Legislativo é o que dita a amplitude da agenda.
No primeiro mandato, Bolsonaro gastou seu poder e prestígio tentando controlar o Congresso com frases de efeito e com uma inepta estratégia política. Queria governar com o apoio de governadores dando “uma prensa” nos senadores e deputados — como disse Paulo Guedes –, que esmagariam as bancadas partidárias em nome de bilionários recursos do governo federal. Deu tudo errado.
Bolsonaro logo brigou com os gestores estaduais e investiu numa estratégia de intimidação contra o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que, com tantos ataques pessoais, acabou convertido num grande inimigo do Planalto. A força da eleição de Bolsonaro acabou aí. Por boa vontade do Parlamento, ainda conseguiu a provar a reforma da Previdência — e olhe lá.
Nesta eleição, Bolsonaro, se for reeleito, abrirá o novo mandato com força inédita. Sócio do centrão, a quem entregou o comando do orçamento, terá influência para implementar sua agenda ideológica. Pelo que anunciou eo senador eleito Hamilton Mourão, o presidente terá apoio no Legislativo numa eventual cruzada contra o STF e as instituições. Vai ampliar o número de cadeiras do Supremo e diluir o sistema atual de nomeação de ministros — criando mandatos e contaminando com a interferência política o tribunal guardião da Constituição. Daí para frente, só Hugo Chávez sabe o que virá.
Lula esconde o jogo sobre suas reais prioridades, caso seja eleito, mas já disse que irá desmontar as reformas de Michel Temer e retomar a política que coloca o Estado como indutor da economia, a partir da expansão dos gastos públicos — um mistério, diante da bomba fiscal que receberá de Bolsonaro. Lula poderia explicar melhor como pretende gastar o capital político de sua eventual eleição, mas nem a dúvida sobre a volta de José Dirceu, Dilma Rousseff e outros nomes petistas — lançada por Bolsonaro — ele se dispõe a desfazer.
Com os dois candidatos dedicados a amplificar ataques, insultos e as baixarias vistas nas redes sociais, o futuro do país é para lá de nebuloso seja quem for o eleito.