Bolsonaro usou dinheiro das joias para bancar estadia nos EUA, diz PF
Segundo relatório, uso de dinheiro em espécie para pagar despesas cotidianas é uma das formas mais usuais para reintegrar "dinheiro sujo" à economia formal
A investigação da Polícia Federal sobre a venda ilícita de presentes e joias dados a Jair Bolsonaro, avaliados em cerca de 25,2 milhões de reais, apontou a possibilidade de que o valor oriundo das transações tenha sido lavado e retornado, em espécie, para o patrimônio do ex-presidente e utilizado para custear as despesas em dólar dele e de sua família durante a estadia nos Estados Unidos, no começo do ano passado.
O relatório entregue ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, explica que, para descobrir o destino dos recursos, a PF analisou os dados decorrentes da quebra de sigilo bancário de Bolsonaro, identificando que ele resgatou todo o seu saldo da poupança no dia 27 de dezembro de 2022 e efetuou uma operação de câmbio no valor de 800.000,03 reais de sua conta corrente no Banco do Brasil para uma conta no Banco do Brasil Américas.
“A análise não identificou novas transferências de recursos para o exterior, especialmente para a conta de JAIR BOLSONARO no banco BB Américas, entre os meses de janeiro e março
de 2023, período em que o ex-presidente ficou residindo nos Estados Unidos”, diz o documento, assinado pelo delegado Fábio Shor.
Durante a análise do material apreendido nas operações Lucas 12:2 e Venire foram encontradas informações a respeito de gastos, manutenção ou outros dados que dizem respeito a gastos do ex-presidente enquanto permaneceu em solo estadunidense. Assessor de Bolsonaro, o coronel da reserva do Exército Marcelo Câmara tinha acesso a informações pessoais, dados bancários, fiscais, agenda e diversas outras informações do chefe.
A PF achou um documento intitulado “PLANILHA DE CONTROLE DE RECURSOS”, criado em 18 de abril de 2023, feito por Câmara para prestar contas ao ex-presidente, no qual ele dispunha de 151.337,45 dólares no banco BB Américas e 208.386,12 no Banco do Brasil — condizentes com os dados obtidos por meio da quebra de sigilo bancário de Bolsonaro.
“Ou seja, o saldo da conta de JAIR BOLSONARO no BB Américas em abril de 2023 tinha o mesmo valor do depósito inicial, realizado em 27 de dezembro de 2022, revelando que, possivelmente, não realizou movimentações financeiras (crédito/débito) no período em que esteve residindo nos Estados Unidos. Desta forma, a análise contextualizada das movimentações financeiras de JAIR MESSIAS BOLSONARO no Brasil e nos Estados Unidos demonstra que o ex-presidente, possivelmente, não utilizou recursos financeiros depositados em suas contas bancárias no Banco do Brasil e no BB América para custear seus gastos durante sua estadia nos Estados Unidos, entre os dias 30 de dezembro de 2022 e 30 de março de 2023”, apontou a investigação.
Na conclusão desse quesito, o delegado apontou a possibilidade de uso de dinheiro em espécie para reintegrar o “dinheiro sujo” à economia formal:
“Tal fato indica a possibilidade de que os proventos obtidos por meio da venda ilícita das joias desviadas do acervo público brasileiro, que, após os atos de lavagem especificados, retornaram, em espécie, para o patrimônio do ex-presidente, possam ter sido utilizados para custear as despesas em dólar de JAIR BOLSONARO e sua família, enquanto permaneceram em solo norte-americano. A utilização de dinheiro em espécie para pagamento de despesas cotidianas é uma das formas mais usuais para reintegrar o ‘dinheiro sujo’ à economia formal, com aparência lícita”.