Haddad se reúne com Campos Neto às vésperas de decisão do Copom
Sob pressão do Congresso por pautas de custo multibilionário, ministro recebe presidente do Banco Central para conversa a sós em São Paulo
Sob pressão do Congresso pela oposição do governo Lula a pautas com custo na casa das dezenas de bilhões de reais aos cofres públicos, Fernando Haddad recebe nesta quinta-feira o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para uma conversa a sós em São Paulo.
A reunião será um dia depois de a Moody’s revisar a perspectiva da nota de crédito do Brasil de neutra para positiva e às vésperas da próxima reunião do Copom, marcada para 7 e 8 de maio.
Com a iminência da decisão sobre a taxa básica de juros, a Selic, hoje em 10,75% ao ano, Campos Neto e todos os diretores do Banco Central estão no período de silêncio do Copom, durante o qual não podem emitir opiniões em discursos, entrevistas à imprensa e encontros com investidores, analistas de mercado e outros agentes interessados.
Principal foco de atrito político entre o governo Lula e o Congresso no momento, o impasse em torno da desoneração da folha de salários de 17 setores da economia e de municípios com até 156.000 habitantes desagua, também, em preocupações sobre responsabilidade fiscal – um dos fatores que influenciam as decisões do Banco Central.
Há ainda o projeto do Perse, de socorro ao setor de eventos, com custo estimado em 15 bilhões de reais em três anos, que foi à sanção de Lula, e a PEC dos Quinquênios, que concede aumento de 5% para cada cinco anos de serviço de diversas categorias da elite do funcionalismo e, na versão atual, custará ao menos 81,6 bilhões de reais até 2026.
Em evento organizado por centrais sindicais para o Dia do Trabalhador, Lula defendeu seu veto à desoneração (já derrubado pelo Congresso) e disse que é contra o benefício às empresas sem compromisso de geração de emprego ou garantias aos trabalhadores. “No nosso país, não haverá desoneração para favorecer os mais ricos, e sim, para favorecer aqueles que trabalham e que vivem de salário”, declarou.
Dario Durigan, que é secretário-executivo do Ministério da Fazenda e, portanto, braço-direito de Haddad, criticou a pressão pela prorrogação da desoneração e afirmou em entrevista ao InfoMoney na terça-feira que, “se temos um benefício fiscal (que) corrompe a base de responsabilidade fiscal, pode ser que os juros no país não caiam como se espera”.
Outro contexto que envolve a reunião com Haddad é a sucessão na presidência do BC, já que o mandato de Campos Neto vai até 31 de dezembro. O economista defendeu publicamente que a transição comece antes de sua saída, o que exigiria que Lula indicasse o próximo presidente ainda neste ano.
Lula, por sua vez, afirmou em café com jornalistas no fim de abril que ainda não decidiu se vai antecipar a indicação para o comando da autarquia ou fazê-la só depois de Campos Neto deixar o cargo.