Auxiliares de Jair Bolsonaro, que tendem sempre a olhar o copo meio cheio no governo, acreditam que o presidente usará o cardiologista Marcelo Queiroga como elemento de correção de rumos na desastrosa postura demonstrada até aqui na pandemia.
Para essa turma, Queiroga, “um médico com habilidades políticas”, será capaz de convencer o presidente a abandonar o discurso negacionista e se unir ao resto do mundo no combate ao vírus. Bolsonaro, claro, mudaria de discurso não por ter acordado para os fatos, mas sim para se ajustar ao novo cenário eleitoral, com Lula ganhando popularidade por fazer um discurso de união contra o vírus.
O presidente, na visão de seus auxiliares, é um “animal político” e fará o que for necessário para buscar a reeleição — o Datafolha desta quarta, com recorde de rejeição da figura presidencial de 54%, deve colocar ainda mais pressão no Planalto.
Essa turma lembra que até Donald Trump mudou de discurso — não adiantou, é verdade — em determinado momento da tragédia nos Estados Unidos. “E lá não existia o que temos aqui. Lula, com essa chegada, virou hoje o principal conselheiro do presidente”, diz um aliado.
É certo, porém, que o trabalho que levou Queiroga ao governo já começou errado no primeiro momento. Bolsonaro desagradou os aliados do Congresso ao preterir a médica Ludmilla Hajjar só porque a doutora resolveu tocar violão para Dilma Rousseff no passado.
O presidente, que busca adesão incondicional de seus aliados, escolheu então um amigo do sogro de Flávio Bolsonaro para o cargo. Queiroga chegou numa exótica transição onde quem dita as regras é o ministro demissionário Eduardo Pazuello.
O Radar já mostrou que Pazuello havia revelado a auxiliares o desejo de deixar o ministério ainda antes do Carnaval, tanto que muitos assessores técnicos já procuravam emprego em outros ministérios. A investigação no STF e a pressão de familiares falaram mais alto no coração do general.
Nesta semana, porém, Pazuello preferiu sair de peito estufado do governo, criando outra versão. Num movimento trapalhão como tantos na gestão da pandemia, disse que não pediria para sair. Horas depois, no entanto, foi saído pelo anúncio da escolha de Queiroga. Nesta quarta, o país testemunhará o ministro demissionário comandando a entrega de vacinas ao lado do “indicado” Queiroga no Rio de Janeiro.
A junta militar levada por Pazuello para tocar a gestão de Nelson Teich, o ministro que foi sem pouco ter sido, seguirá na pasta nesse primeiro momento, o que é compreensível, dada a falta de experiência do novo ministro na burocracia da pasta. Conta-se entre os aliados de Bolsonaro que Queiroga logo montará sua própria equipe para promover o tal milagre da mudança de opinião do presidente sobre o vírus, aglomerações e uso de máscaras. A conferir.