Depois de oito anos no governo, Henrique Meirelles não se cansou. Quer permanecer. Nesta semana, terá uma conversa decisiva com Dilma Rousseff numa condição que podia lhe ser mais favorável: nos últimos dias, um ruído na comunicação causou-lhe embaraços fora de hora.
Na sexta-feira, parte do noticiário sustentava que Meirelles já conversara com Dilma. No encontro, teria botado uma espécie de faca no peito da presidente: só aceitaria continuar à frente do BC, se mantivesse a autonomia que Lula lhe concedeu desde 2003.
Aos mais próximos, Meirelles suspeita que esse vazamento de uma reunião que nunca ocorreu teria vindo dos seus adversários no governo.
Efetivamente, Meirelles nunca disse, mesmo privadamente, que tenha conversado com Dilma sobre sua posição no próximo governo. O que talvez tenha causado o curto-circuito seja outro ponto – a tal autonomia.
Meirelles sempre pôs essa condição como fundamental para o sucesso (inegável) de sua gestão no BC. Repetia a quem quisesse ouvir que não seria presidente do BC noutra condição que não essa. Daí para a afirmação ser usada conta ele num momento delicado foi um pulo.
Quando a campanha eleitoral ainda se desenrolava, Meirelles imaginava algumas possibilidades para o seu ano de 2011. Pensava, por exemplo, em ser ministro. De qual pasta? Uma possibilidade lhe agradava: um ministério do Planejamento com funções ampliadas.
Continuar no BC não era a primeira opção, talvez pelo cansaço de oito anos na mesma cadeira, mas Meirelles nunca descartou totalmente a ideia – sempre ressalvando que mantidas as condições de trabalho que Lula lhe franqueou.
Nesta fase de formação do governo, é a hora do óbvio se tornar mais óbvio: neopeemedebista, Meirelles não tem o apoio do partido para nenhuma aspiração maior. Até porque, para tê-lo seria obrigado a abrir mão da sonhada autonomia. Ou alguém imagina que o PMDB sustente nomes para ministérios que ousem nomear quem quiser para os postos relevantes?
No encontro dos próximos dias com Dilma não adiantará para Meirelles ser mais ou menos hábil e tentar desarmar o eventual mau humor da presidente com o curto-circuito de informações dos últimos dias. Aparentemente, a julgar pelo que dizem pessoas próximas a Dilma, ela estaria decidida a nomear um novo presidente do BC.
O que pode fazê-la mudar de ideia? Lula poderia. E ele é favorável a manutenção de Meirelles. Mas há uma força maior do que Lula que pode balançar Dilma — sim, de vez em quando surge uma força maior do que Lula, por mais que isso possa surpreender os petistas que babam pelo presidente.
Mais do que balançar: convencê-la de que seja necessário conservar alguém com a experiência de Meirelles na condução da política monetária em tempos nublados (ainda que não agrade a Dilma que o presidente do BC e o ministro da Fazenda se detestem, algo que Lula sempre tirou de letra).
Está se falando aqui das pressões inflacionárias, mais e mais evidentes. O recém-anunciado salto do IGP-M, de 0,89% para 1,20% entre outubro e novembro (uma subida de 10% em um ano) é apenas um dos exemplos que se apresentam. E quando se fala dessas quatro letrinhas está se falando de impopulares reajustes nos aluguéis.
O problema é agravado pela decisão do governo de ter como meta para 2011 um superávit primário nas contas públicas de 3% do PIB – o alvo anterior era de 3,3%.
Não custa repetir algo que o próprio governo parece ter esquecido: essa mudança forçará uma elevação da taxa de juros. A propósito, no dia 8 de dezembro o Copom se reúne pela última vez na era Lula. Há um quase consenso de que será necessário elevar a Selic.
Numa palavra, a aproximação de um tempo ruim pode balançar Dilma, pode forçá-la a ser mais prudente e conservadora neste início de governo. Se for assim, Meirelles fica.