O procurador-geral da República, Augusto Aras, coloca na conta da “retórica política” os ataques do presidente Jair Bolsonaro às urnas eletrônicas, que voltaram a se repetir nas últimas semanas. A opinião do chefe do MPF foi externada na última sexta-feira, quando ele foi questionado se esse assunto já não estava devidamente resolvido entre os Poderes e se antevia a judicialização do processo eleitoral como ocorreu nos Estados Unidos.
“O assunto faz parte da retórica política. Enquanto não houver prova de ineficiência ou de eventualmente fraude no sistema eletrônico, que não há, por enquanto, pelo menos até aqui, nós temos que respeitar esse importante instrumento da coleta dos votos ali depositados. O Brasil já tem uma larga experiência disso tudo, e evidente que nós não podemos restringir a retórica política de quem quer que seja”, declarou Aras, em entrevista à Rádio Bandeirantes.
Evitando citar qualquer nome, o procurador-geral disse que existem políticos, técnicos, juízes, promotores e advogados “que eventualmente se manifestam contra não o voto na urna eletrônica, mas ante a necessidade de se ter uma caixa coletora desse voto para, em caso de dúvida acerca da idoneidade daquela votação, poder fazer uma recontagem — o que, no atual sistema, não é permitido”.
Aras relativizou os ataques do presidente, que no ano vazou informações de um inquérito sigiloso sobre um ataque hacker ao TSE — caso que foi investigado pela PF e aguarda manifestação da PGR.
“Mas essa é uma questão que, do ponto de vista do político e das candidaturas, será sempre recorrente. Mas nós temos as garantias do sistema eleitora e especialmente das urnas. O ministro [Luís Roberto] Barroso presidente do TSE], no particular, abriu o código-fonte. O Ministério Público Eleitoral participa dessa verificação, assim como os partidos políticos e cidadãos com idoneidade técnica que se apresentem, e até agora nós não podemos nos queixar das urnas. Pelo contrário, as urnas deram cabo de velhas formas de fraude”, comentou.
Ele disse ainda que nada a busca pelo aprimoramento das urnas eletrônicas, o que vem sendo feito pelos presidentes do TSE ao longo dos anos. E que a tecnologia nunca vai dispensar esses cuidados.
Aras aproveitou ainda para convidar todos os brasileiros a participar das eleições desse ano como “fiscais da cidadania”, alegando ser impossível que o Ministério Público e a magistratura consigam fiscalizar todo o país, de dimensões continentais.
“Então vamos todos fiscalizar e vamos buscar no Judiciário e no Ministério Público soluções que porventura sejam necessárias para coibir abusos, fraudes, excessos, sempre presentes de alguma forma em qualquer pleito eleitoral”, concluiu.
Em 2018, por coincidência, a campanha de Bolsonaro lançou os “Fiscais do Jair”, que deveriam caçar e denunciar eventuais fraudes nas urnas eletrônicas, que nunca foram comprovadas apesar de inúmeros relatos de bolsonaristas e do próprio presidente. Bolsonaro, aliás, insiste que a eleição de 2018, vencida por ele, foi fraudada.