‘Repasse ao máximo’, disse Bolsonaro a empresário em mensagem de fake news
A PF encontrou o material no celular de Meyer Nigri, investigado por "ilícita defesa de um golpe de Estado"
A Polícia Federal encontrou no celular do empresário Meyer Joseph Nigri mensagens enviadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro com conteúdo falso, ataques a ministros do TSE e do STF e ao processo eleitoral brasileiro. E um pedido para que o interlocutor as “repasse ao máximo”.
O material foi enviado logo em seguida ao grupo “Empresários & Política” no WhatsApp, cujos integrantes foram investigados por “ilícita defesa de um golpe de Estado”.
A descoberta consta de decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que determinou o arquivamento da investigação sobre seis dos oito empresários bolsonaristas que foram alvo da apuração, iniciada em agosto do ano passado. Moraes atendeu o pedido da PF para prorrogar o prazo da investigação sobre Nigri, por causa da sua relação com Bolsonaro, e Luciano Hang, uma vez que o dono da Havan se recusou a fornecer as senhas dos aparelhos apreendidos.
“A dilação de prazo solicitada pela Polícia Federal é justificada, uma vez que, em relação ao investigado MEYER JOSEPH NIGRI há necessidade da continuidade das diligências, pois o relatório da Polícia Federal ratificou a existência de vínculo entre ele e o ex-Presidente Jair Bolsonaro, inclusive com a finalidade de disseminação de várias notícias falsas e atentatórias à Democracia e ao Estado Democrático de Direito, utilizando-se do mesmo modo de agir da associação especializada investigada no Inq. 4874/DF”, decidiu o ministro, em referência à investigação de milícias digitais antidemocráticas.
Os seis empresários que deixaram de ser investigados, por “ausência de justa causa”, foram Afrânio Barreira Filho, José Isaac Peres, José Koury Junior, Ivan Wrobel, Marco Aurélio Raymundo e Luiz André Tissot.
O despacho, assinado por Moraes na última sexta-feira, aponta que o grupo “reunia grandes empresários de diversas partes do país a pretexto de apoiar a reeleição do então Presidente da República Jair Messias Bolsonaro”. A PF apontou que eles demonstraram aderência voluntária ao mesmo modo de agir da associação especializada
investigada no inquérito das milícias digitais, com os mesmos objetivos: “atacar integrantes de instituições públicas, desacreditar o processo eleitoral brasileiro, reforçar o discurso de polarização; gerar animosidade dentro da própria sociedade brasileira, promovendo o descrédito dos Poderes da República, além de outros crimes”.
O relatório da PF aponta que um número identificado como “Pr Bolsonaro 8” enviou um vídeo no dia 26 de junho do ano passado, seguido da seguinte mensagem:
“- O ministro Barroso faz peregrinação no exterior sobre o atual processo eleitoral brasileiro, como sendo algo seguro e confiável. – O pior, mente sobre o que se tentou aprovar em 2021: o voto impresso ao lado da urna eletrônica, quando ele se reuniu com lideranças partidárias e o Voto Impresso foi derrotado. Isso chama-se INTERFERÊNCIA. – Todo esse desserviço à Democracia dos 3 ministros do TSE/STF, faz somente aumentar a desconfiança de fraudes preparadas por ocasião das eleições. – O DataFolha infla os números de Lula para dar respaldo ao TSE por ocasião do anúncio do resultado eleitoral.
REPASSE AO MÁXIMO.”
Nigri então responde que já repassou “pra vários grupos!” e comenta que faz tempo que os dois não se falam, questionado como o então presidente estava. “Abs (abraços) de Veneza”, conclui.
“Ou seja, a pessoa associada ao contato Pr Bolsonaro 8 enviou ao investigado MEYER NIGRI, as mensagens com conteúdo não lastreado ou conhecidamente falso (fake News), atacando integrantes de instituições públicas, especialmente Ministros do STF, desacreditando o processo eleitoral brasileiro. Em seguida, após receber as mensagens em chat privado, MEYER NIGRI publicou o conteúdo ilícito no grupo de WhatsApp Empresários & Política. Inclusive, MEYER NIGRI avisa ao interlocutor Pr Bolsonaro 8, que uma das mensagens falsas, relativa a divulgação de uma possível fraude no sistema de votação brasileiro, foi repassada a vários grupos”, aponta a Polícia Federal.