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Literatura ou entretenimento?

Menosprezar os romances de sucesso é elitista — e descabido

Por Raphael Montes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 13h50 - Publicado em 11 dez 2020, 06h00
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  • Nelson Rodrigues
    Nelson Rodrigues (Reprodução/VEJA)

    No início do ano, o tradicional Prêmio Jabuti causou polêmica ao divulgar a criação de uma nova categoria no segmento romance: o romance de entretenimento. Na época, recebi convites para tratar do assunto, mas preferi ficar em silêncio por duas razões: (1) eu queria acompanhar as discussões que daí surgiram e (2) eu tinha um romance recém-publicado, poderia concorrer e, assim, qualquer texto poderia ser mal interpretado. No fim de novembro, os resultados foram divulgados e meu livro mais recente, Uma Mulher no Escuro, acabou vencendo a categoria “romance de entretenimento”. Agora, me sinto à vontade para opinar.

    Não é de hoje que críticos, curadores, escritores e leitores fazem uma divisão entre “literatura” e “entretenimento”. A mim, a separação sempre soou descabida. Digo isso porque, se de um lado temos o “romance de entretenimento”, é de se supor que na outra categoria disputem os “romances de aborrecimento”, aqueles dedicados a arrancar bocejos do leitor, deixá-lo impaciente ou de saco cheio.

    Em sentido oposto, se consideramos a categoria “romance literário”, temos a clara impressão de que os romances que entretêm não são (nem podem ser) literatura. Sem dúvida, um impasse desagradável. Afinal, o bom romance deve ser literatura e entretenimento. São os autores nesse “meio do caminho” que me encantam: aqueles que usam os jogos de linguagem, a potência das palavras, a forma e a estética para narrar boas histórias, para criar personagens complexos e tramas inesperadas. Em um país ideal, a distinção entre literatura e entretenimento em um prêmio do segmento seria desnecessária.

    “Autores como Nelson Rodrigues foram vistos por anos com maus olhos porque eram populares”

    Mas sejamos realistas: vivemos num meio literário esnobe, distante de seu público, que abomina best-sellers e filas de leitores. A célebre frase cunhada por Tom Jobim nunca fez tanto sentido: “No Brasil, sucesso é ofensa pessoal”. Pega mal entreter, pega mal ser lido. Autores como Jorge Amado, Nelson Rodrigues e Rubem Fonseca foram vistos por anos com maus olhos justamente porque, mesmo com o apuro de linguagem, faziam genuíno entretenimento, eram populares. Em anos de prêmios e festivais literários, romances e autores de gênero raramente foram contemplados, pois são escolhidos por um corpo de jurados elitista, que revira os olhos diante de uma narrativa policial, de terror, de humor, de ficção científica ou de fantasia.

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    Por isso, mesmo não sendo ideal, é inegável a urgência de uma categoria como essa no Prêmio Jabuti. Como leitor e apaixonado por romances policiais, sempre lamentei a ausência de prêmios dedicados ao gênero, como existem em países como Estados Unidos (Edgar Allan Poe Awards), França (Grand Prix de Littérature Policière) e Alemanha (Deutscher Krimi Preis). Torço para que mais prêmios passem a levar em conta a grande e valiosa produção de romances de gênero que vem sendo feita no Brasil. Quem sabe assim nossa literatura brasileira contemporânea conquiste seu público e seja amplamente estudada nos cursos de letras. Tenho muito orgulho de ser o primeiro ganhador da categoria “romance de entretenimento”. Uma Mulher no Escuro é entretenimento. E é literatura.

    Publicado em VEJA de 16 de dezembro de 2020, edição nº 2717

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