O casamento da crise econômica com a crise política gerou a crise de confiança. Ninguém mais apostava uma vírgula no governo Dilma. E por bons motivos. Dado o fato jurídico, o que derrubou a “afastada” foi esse ambiente. Com ela, não se conseguia ter uma visão mínima do futuro. Nesse sentido, a equipe anunciada por Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, cumpre, de saída, uma primeira tarefa: tranquilizar os agentes econômicos. Com esse grupo, pode haver estresse, mas não feitiçaria.
Ilan Goldfajn, novo presidente do Banco Central, tem uma sólida formação intelectual e já foi diretor de Política Econômica do próprio BC entre 2000 e 2003. Já serviu, portanto, aos governos FHC e Lula — ainda que por breve período. É especialista em política monetária e era economista-chefe do Itaú-Unibanco.
Os que acompanham de perto seu pensamento dizem que, a despeito das dificuldades, esse é bom momento para assumir tal tarefa. Tido, no passado, como um monetarista fanático, os anos na chefia de um banco o teriam aproximado mais da chamada economia real. Ou por outra: Ilan já sabe que, sem pão, não há circo. Sem produção, não há diversão. Estima-se que a inflação entrará numa trajetória de queda e que isso permitirá, em breve, o início de um ciclo de queda de juros.
Outro grande nome da equipe é Mansueto Facundo de Almeida Jr., talvez hoje um dos maiores especialistas do país em contas públicas. É técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea. Tem um blog em que há muito vinha alertando para o desastre fiscal para o qual caminhava o governo Dilma. A exemplo de Ilan, também cursou doutorado no MIT, mas não chegou a defender a tese. Será o Secretário de Acompanhamento Econômico.
Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo, secretário de Política Econômica, já foi diretor do Banco Central. Integrou a diretoria do BC no governo Dilma e combateu a política de queda artificial de juros. Mais de uma vez, ficou como voz isolada no Copom. O economista Marcelo Abi-Ramia Caetano assume a Secretaria da Previdência e é um notório defensor da reforma na área.
A equipe é boa. A realidade é que é escandalosamente ruim. Sem um corte radical de gastos, que não terá como poupar área nenhuma, ou um aumento de impostos — eventualmente as duas coisas —, como é que se sai do atoleiro? Se a crise de confiança é sempre a carpideira dos governos, aquela que acompanha o seu fim, o fato é que ela não surge do nada.
O ambiente político melhorou um pouco. Mas é fato que não há caminhos mágicos na economia. O déficit de ao menos R$ 120 bilhões neste ano já está contratado, e há quem considere esse número otimista. Passada a primeira fase do entusiasmo, vem a realidade. E aí? Bem, aí será preciso negociar com o Congresso. E num ano, convenham, ruim porque eleitoral. Os políticos ficam com o coração especialmente mole nesse período.
Pode até haver alguma fórmula que impeça um corte radical de gastos, que atingirá todas as áreas, inclusive as sociais, e um aumento da carga tributária. Sinceramente, não enxergo e não conheço ninguém com o realismo necessário que o enxergue. É claro que isso assanhará o discurso da canalha golpista de esquerda, que irá para as ruas denunciar o “complô neoliberal”.
Então cabe a pergunta: “Mas, se Dilma ficasse, teríamos cortes, aumento da carga ou os dois?”. Muito provavelmente, nada nisso. Teríamos apenas o caos. Eis a tarefa espinhosa de Michel Temer: arrumar a economia sabendo que as medidas saneadoras não são exatamente populares no curto prazo.
O que fazer?
O governo Temer precisa, e com urgência, fazer o inventário da herança maldita deixada por Dilma Rousseff. É necessário que, de modo claro, didático, técnico, se exponham os números da economia.
Urge criar um site com a exposição desses dados, a ser permanentemente atualizado. Mais: o presidente deveria convocar a Rede Nacional de Rádio e Televisão para dizer ao país, olhos nos olhos, qual é o quadro. As mistificações petistas só prosperaram porque não combatidas a tempo, com a devida prontidão.
A equipe de Meirelles é de primeira grandeza. Ninguém põe isso em dúvida. Mas não há milagreiros ali. Graças a Deus!