Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

Reinaldo Azevedo

Por Blog Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
Continua após publicidade

Alaor Leite: advogado concede entrevista, e país fica menos burro

Até que enfim um estudioso lembra que caixa dois não pode ser anistiado porque não se anistia o que crime não é

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 4 jun 2024, 18h12 - Publicado em 28 mar 2017, 08h15
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Eis que acesso a Folha e dou de cara com uma entrevista de um jovem chamado Alaor Leite. Parece ter menos de 30. É advogado. O currículo é bom: doutorando em direito na Universidade Ludwig-Maximilians, a Universidade de Munique. Em 2011, foi premiado por ter escrito a melhor dissertação de mestrado da instituição — sim, em alemão. É aluno de Claus Roxin, um dos mais afamados criminalistas do mundo. Começo assim para evidenciar, é certo, que bobo o rapaz não é. Há muito tempo os “especialistas” nativos — ele é nativo, mas está em longes terras — andam sem coragem de dizer coisa com coisa.

    Vai que fique parecendo que eles são contra a Lava Jato, né? O clima de patrulha é tão estúpido que um advogado não tem receio de parecer idiota. Só não quer que digam que está do lado errado.

    Leite começa lembrando o básico: caixa dois, por si, não é crime, embora, por óbvio, possa ser parte de uma arquitetura criminosa. E aí acrescenta o que tem sido ignorado por aqui:
    “Evidentemente, a contabilidade paralela pode estar conectada a outros delitos, que possuem outros requisitos que devem ser provados.”

    Entenderam? Aquilo que querem o Ministério Público Federal e alguns incautos que foram às ruas no domingo não pode ser: caixa dois não é, por exemplo, sinônimo de corrupção. Evidenciar que uma coisa aconteceu não serve como prova da outra.

    O doutor toca em outra questão essencial, de que já tratei aqui uma duzentas vezes. Referindo-se à suposta tentativa de se anistias caixa dois, afirma:
    “[a proposta] É, ao mesmo tempo, delirante e ardilosa. Delirante porque não se pode anistiar o que não existe, seria algo como uma herança de uma pessoa viva ou o assassinato de um morto. A anistia refere-se a fatos passados que configuravam crimes e que devem ser apagados, especialmente por razões nobres de estabelecimento de paz social. Veja-se o exemplo da possível anistia a integrantes dos grupos paramilitares na Colômbia. Comparemos, enrubescidos, esse caso com a tentativa de anistiar um delito inexistente.”

    Continua após a publicidade

    Que toquem os sinos!

    Que soem as trombetas!

    Que o céu se derrame em bênçãos!

    Continua após a publicidade

    Finalmente surge uma voz, que não a minha própria, a dizer que NÃO SE ANISTIA O QUE NÃO É CRIME.

    Trata-se de um delírio, sim! Mas de um delírio inventado pelo MPF e comprado pela imprensa, que não tem coragem de confrontar os procuradores.

    E Leite faz outra consideração, que precisa ser bem entendida:
    “A discussão [da anistia ao caixa dois] é ardilosa, pois pode ser que, por trás dessa discussão, esteja a abjeta tentativa de anistiar outros delitos bastante graves, como a corrupção. Enquanto não retirarmos de cena a discussão da anistia, não conseguiremos discutir o essencial: como construir um sistema jurídico-eleitoral legítimo e eficiente?”

    Continua após a publicidade

    Tomara que todos os veículos em que trabalho contratem Alaor Leite para dar algumas aulas de direito!

    Já estava me sentindo um pregador do deserto: “Gente, não se anistia o que não é crime! A única possibilidade seria anistiar corrupção, peculato, lavagem… E isso não vai acontecer porque, por óbvio, o Supremo não permitiria”.

    É o que está dizendo o estudioso, o especialista.

    Continua após a publicidade

    Leiam a entrevista. Ele critica, por ineficazes e confusas, as tais 10 Medidas contra a Corrupção do Ministério Público e censura, sim, ainda que de modo elegante a criminalização da política. Afirma:
    “Os partidos políticos são pessoas jurídicas de direito privado, mas gozam de outra estatura se comparados a uma fábrica: eles representam a única via de consecução dos anseios democráticos da população. Quanto à pena da corrupção, ela pode chegar atualmente a 16 anos de prisão. O aumento de pena serviria apenas como um aumento no poder de barganha dos acusadores nos acordos de colaboração.”

    Naquela que é, ao mesmo tempo, a mais dura e a mais serena crítica aos “Savonarolas” e demagogos que andam por aí, ele recomenda humildade e estudo aos que se apresentam como salvadores da pátria:

    “Por que não estudar todos esses exemplos [elo se refere ao que é feito em outros países] antes de propor uma isolacionista e histriônica salvação nacional? Os nossos proponentes ignoram o debate internacional. Também a ciência brasileira não foi consultada. Tais como estão, as propostas existentes manifestam inescapável contradição: ao ignorarem a discussão científica nacional e internacional, os proponentes privatizam o que deveria ser público, destilando o veneno que pretendem combater.”

    Eis que um jovem advogado concede uma entrevista e torna o Brasil menos burro!

    Publicidade

    Publicidade
    Imagem do bloco

    4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

    Vejinhas Conteúdo para assinantes

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.