Vejam esta foto:
Então, no esquema do petrolão, Dirceu era “Bob”? É uma porcaria que a gente tenha lugar reservado na memória para os escândalos, que vão se multiplicando. Fazer o quê? Faz parte da nossa profissão, infelizmente.
Recomendo aos investigadores que também puxem pela memória. No dia 3 de agosto de 2005, a VEJA publicou uma reportagem (eu a reproduzo abaixo, em azul) em que informava que Bob Marques, um assessor de Dirceu e, literalmente, carregador de malas, tinha autorização para sacar dinheiro do mensalão do Banco
Rural. É preciso ver se o “Bob” de agora não é o mesmo “Bob” de antes. Tendo a achar que sim, né? Por que tamanha falta de imaginação com os apelidos?
Leiam a reportagem intitulada “Aonde Dirceu vai, o Bob vai atrás”. O assessor recorreu à Justiça para receber da VEJA R$ 100 mil de indenização por danos morais. O pedido foi negado pelo juiz Manoel Luiz Ribeiro, da 3ª Vara Cível do Foro Regional de Pinheiros, na capital paulista (aqui a está a decisão). No dia 1º de outubro de 2012, lembrei neste blog a história do Bob.
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Não foi só o depoimento de Renilda Santiago que colocou o ex-ministro José Dirceu no epicentro do escândalo do mensalão. Um documento, apreendido pela Polícia Federal na agência do Banco Rural em Belo Horizonte, revela que, entre as pessoas autorizadas a sacar dinheiro das contas do publicitário Marcos Valério, estava um dos principais ajudantes de Dirceu, Roberto Marques, conhecido como “Bob”, que cuida da agenda e das contas do ex-chefe da Casa Civil.
A descoberta surpreendeu a bancada petista na CPI dos Correios e provocou frisson entre os oposicionistas, que vêem no documento em poder da comissão o mais forte indício até agora da ligação de Dirceu com o esquema irregular de arrecadação de fundos. O documento, um fax com papel timbrado do Banco Rural, foi enviado à agência de São Paulo no dia 15 de junho do ano passado. Nele, um funcionário da agência mineira encaminha ao colega da Avenida Paulista uma autorização para o “sr. Roberto Marques receber a quantia de 50.000, referente ao cheque 414270, da empresa SMPB Comunicação”.
Os membros da CPI já sabem que, apesar da autorização dada ao ajudante de Dirceu, o saque foi feito no dia seguinte por Luiz Carlos Mazano, contador da corretora Bonus-Banval, que também estava autorizado a realizá-lo. A corretora informou que realmente tem um funcionário com esse nome, mas que o saque teria sido feito por um homônimo. O advogado da corretora, Antônio Sérgio Pitombo, vê armação. “Quando se associa o homônimo à corretora, o que se quer é agir de má-fé e desviar o foco das investigações da CPI”, diz. Não é a primeira vez que o nome da Bonus-Banval aparece na investigação do escândalo do mensalão.
Em Brasília, as investigações identificaram saques no valor de 225.000 reais cujo autor é Benoni Nascimento de Moura, funcionário da Banval. A corretora diz que está realizando uma auditoria interna para descobrir se houve alguma irregularidade cometida pelo funcionário Benoni. Quanto a Roberto Marques, a Bonus-Banval diz que não conhece nem nunca ouviu falar do ajudante de Dirceu. Pouco se sabe ainda sobre as atividades da corretora paulista, exceto que ela empregou até o fim do ano passado como estagiária Michele Janene, filha do deputado José Janene, suspeito de ser um dos chefes do mensalão. Talvez um bônus do tipo banval.
O aparecimento de Roberto Marques deve pautar os debates da CPI dos Correios, que vai ouvir nesta semana a diretora financeira da SMPB, Simone Vasconcelos. Bob é uma espécie de secretário particular de Dirceu. Faz as vezes de motorista, de despachante e de carregador de bagagem. Funcionário da Assembléia Legislativa de São Paulo, ninguém sabe direito o que ele é realmente – só que está sempre na companhia de Dirceu. Em muitas ocasiões, foi visto circulando por gabinetes do Palácio do Planalto.
Em março deste ano, Bob, sob o comando de Dirceu, foi um dos mais ativos operadores na campanha para a presidência da Assembléia Legislativa de São Paulo. A parceria entre Bob e Dirceu é tão intensa que o assessor chegou a representar oficialmente o então ministro da Casa Civil em solenidades, como a organizada pela Associação para Prevenção e Tratamento da Aids, realizada em 2003, em São Paulo. “Sou amigo do Zé há vinte anos. Faço companhia a ele nos fins de semana e ajudo no que for possível”, afirma Bob. Dinheiro de Valério?
Ele garante que nada tem a ver com isso. É, segundo ele, coincidência ou armação. “Só em São Paulo existem 5.000 pessoas com o mesmo nome”, diz o amigo-secretário de Dirceu. “Nunca estive no Rural, não saquei dinheiro nenhum e se usaram meu nome foi indevidamente”, garante ele. O problema é que a CPI resolveu investigar e descobriu que a autorização foi, sim, dada ao assessor legislativo, embora ele não tenha sido o autor do saque. “Só pode ser então uma armação para complicar a vida do Zé Dirceu”, afirma. Esse Bob é mesmo esponja.
A confirmação de que o Roberto Marques do documento do Rural é o mesmo Bob ajudante de Dirceu foi dada a VEJA na última sexta-feira pelo deputado Carlos Abicalil, do PT de Mato Grosso. Sub-relator da CPI dos Correios, o parlamentar contou que foi procurado pelo próprio Marques na semana retrasada para tentar esclarecer o aparecimento de seu nome nos documentos contábeis do Banco Rural. Segundo o deputado, o assessor repassou o número de sua identidade e de seu CPF, para que ele pudesse conferir com os documentos em poder da CPI. O resultado da pesquisa, nas palavras do próprio deputado, foi o seguinte: “O número do RG conferia. Só não conferia o saque”, diz.
Dirceu sabia que o documento com o nome do ajudante apareceria cedo ou tarde. O próprio Roberto Marques contou ter conversado com o ex-ministro sobre o assunto muito antes de surgirem os rumores de que o papel existia. “Eu disse que não tinha nada a ver com isso.” Desde o início da semana passada, Dirceu procurava insistentemente falar com o presidente da CPI, o senador Delcidio Amaral. Na terça-feira, Delcidio foi à casa do ex-ministro, onde passou meia hora. Os dois tiveram uma conversa dura, segundo relatos ouvidos por membros da CPI.
Oficialmente, discutiram sobre o andamento dos trabalhos da comissão. O ex-ministro demonstrou grande preocupação com a velocidade da investigação e, principalmente, com o vazamento de documentos – um estranho incômodo para quem, em tese, nada tem a ver com o assunto. Dirceu também defendeu que seu depoimento era desnecessário. Por fim, fez uma proposta indecorosa ao presidente da CPI. Sugeriu a Delcidio que barganhasse seu depoimento em troca da não-convocação do presidente do PSDB, Eduardo Azeredo, cujo nome também apareceu como beneficiário do dinheiro de Marcos Valério.
Delcidio desconversou. Outros parlamentares afirmam que Dirceu queria sumir ainda com a autorização de saque para Bob, sob a alegação de que era um papel avulso, sem validade jurídica. Sobre o aparecimento do nome de seu secretário particular, ajudante, amigo e, agora se sabe, pau para toda a obra, Dirceu mandou dizer que tudo indica tratar-se de uma “plantação” para prejudicá-lo. A convocação do ex-ministro para a CPI deverá ser aprovada nesta semana.