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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

Cabral e o RJ são símbolos do estilo petralha de fazer política

O Estado está quebrado, e Sérgio Cabral foi parar na cadeia. As acusações são muito graves — e não estou aqui emitindo uma sentença de condenação. Ele tem direito à defesa, mas mesmo os seus admiradores mais entusiasmados hão de admitir que a sua situação é muito grave

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 30 jul 2020, 21h19 - Publicado em 17 nov 2016, 14h03

Já escrevi aqui uma vez que  que a bancarrota do Estado do Rio era o emblema de um jeito de gerir o estado brasileiro. Ainda que a muitos pareça heterodoxo, poucos políticos se pareciam tanto com Lula como Sérgio Cabral, o Garotão do Rio, preso nesta quinta-feira.

Vamos lá: perdularismo; parolagem sobre o nada; mistificação; marquetagem de quinta categoria; irresponsabilidade fiscal; mistificação de programas (no caso de Cabral, as UPPs; no caso de Lula, o Bolsa Família); intimidade com empresários que faziam negócios com o Estado; indistinção entre o público e o privado; certeza de que a nova era duraria cem anos; simpatia escancarada e acrítica de setores consideráveis da imprensa…

O Rio sob Cabral era o Brasil sob Lula em escala reduzida. Também por ali valia uma máxima muito citada na minha família quando era criança para designar a falsa qualidade e para denunciar a picaretagem: “Por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento”.

O Estado está quebrado, e Sérgio Cabral foi parar na cadeia. As acusações são muito graves — e não estou aqui emitindo uma sentença de condenação. Ele tem direito à defesa, mas mesmo os seus admiradores mais entusiasmados hão de admitir que a sua situação é muito grave.

As acusações que pesam contra ele têm origem em delações de pesos-pesados. E elas o colocam não como elo de uma cadeia, mas como o chefe de um bolsão corrupto dentro da corrupção mais geral.

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E por que o então governador do Rio ganhou esse protagonismo? Porque o Estado serviu de terreno de manobra dos delírios de grandeza de Luiz Inácio Lula da Silva. Nesse sentido, Cabral foi mesmo um parceiro e tanto. Não por acaso, no bolo das acusações contra o peemedebista, estão obras da Copa, a menina dos olhos de Luiz Inácio Apedeuta da Silva.

Um dos motivos centrais de sua prisão é a reforma do Maracanã, que acabou saindo pela bagatela de R$ 1,2 bilhão, nada menos do que o dobro daquilo que foi orçado. Estima-se que só esse empreendimento gerou R$ 200 milhões em pagamento de propina. Só a Andrade Gutierrez, segundo delações, teria feito ao então governador, entre 2010 e 2011, pagamentos mensais de R$ 350 mil. As investigações apontam que ele teria sido o destinatário de fabulosos R$ 40 milhões em propina.

Como esquecer que Cabral chegou a ser considerado um governador exemplar e modelo a ser seguido por outros gestores? E que fique claro, hein? Não foi só o petismo que entrou nessa, não. Setores consideráveis da imprensa viam nele um exemplo de homem operoso e pragmático. Eis aí. Segundo as investigações, nem os vestidos da ex-primeira-dama tinham origem lícita.

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Boquinha da garrafa
Vejam estas imagens.

Cabralk Paris 1

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cabral-paris-2

Acima, Sérgio Côrtes, secretário da Saúde, e Carlos Wilson, secretário de Governo, fazem papel ridículo em Paris ao lado de Cavendish, aquele já com a fralda (a da camisa) fora da calça. Nas duas primeiras fotos, Cabral entre os seus

Em 2012, Anthony Garotinho publicou fotos em que Cabral e alguns secretários aparecem numa farra, em Paris, em companhia do empresário Fernando Cavendish, dono da Delta. Vejam as imagens.

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Garotinho disse que os convivas estavam dançando “Na Boquinha da Garrafa” em pleno restaurante Ritz. A informação lhe teria sido passada por quem forneceu as fotos. Pode ter carregado nas tintas para submeter o adversário político ao ridículo. Mas uma coisa é certa: de várias maneiras, ninguém por lá estava fazendo um papel muito bonito. O que fazia toda a cúpula do governo do Rio em Paris, em companhia do dono de uma empreiteira flagrada em várias operações criminosas?

Bem, Garotinho está preso.

Sérgio Cabral está preso

E eu me lembrei do “Sermão do Bom Ladrão”, de Padre Vieira — de um trecho em particular:
“De um chamado Seronato disse com discreta contraposição Sidónio Apolinar… Seronato está sempre ocupado em duas coisas: em castigar furtos, e em os fazer. Isto não era zelo de justiça, senão inveja. Queria tirar os ladrões do mundo, para roubar ele só.”

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