Por Breno Costa, na Folha:
O inquérito da Operação Monte Carlo da Polícia Federal indica que o presidente licenciado da Delta Construções, Fernando Cavendish, tinha conhecimento e estimulava a forma pela qual o ex-diretor Cláudio Abreu conduzia os negócios da empresa no Centro-Oeste. Abreu, demitido pela Delta após a operação, é apontado pela PF como integrante do suposto esquema de corrupção comandado pelo empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Na última terça, Abreu foi preso pela Polícia Civil do Distrito Federal sob a acusação de fraude em licitações. O caso Cachoeira envolve o nome de vários políticos e, segundo a PF, tem a participação da Delta, cuja receita bruta com contratos públicos e privados foi de R$ 9,6 bilhões entre 2004 e 2010. Na semana passada, em entrevista à Folha, Cavendish afirmou que desconhecia o que se passava na área de atuação de Cláudio Abreu.
“A empresa tinha um diretor no Centro-Oeste, Claudio Abreu. Sou presidente do conselho, no Rio. Não sei o que está acontecendo em Goiás, no Nordeste, no Norte”, disse ele, emendando: “Nesse período todo de escuta, não tem uma única conversa que dê um indício de que eu tinha conhecimento dessa movimentação. O Claudio, nessa amizade [com Cachoeira], extrapolou os limites da autorização dele na Delta.”
CUIDADO
Grampos da PF que constam do inquérito em tramitação no Supremo Tribunal Federal indicam o contrário. Em meio a uma crise política no Distrito Federal, o diretor da Delta relata a Cachoeira, em janeiro, que Cavendish o orientou a ter “cuidado”, porque estava sendo visado pela imprensa. “O segundo mais visado, disparado em relação a qualquer outro diretor, pela sua audácia e por tudo aí é você, porra. Então você tem que tomar cuidado”, diz Cavendish a Abreu, segundo relato do ex-diretor a Cachoeira. Abreu pergunta a Cavendish, então, se deveria recuar. “Não, não é recuar. Você tem que tomar cuidado e criar uma rede de proteção a isso”, diz Fernando Cavendish, sempre segundo o relato de Abreu a Cachoeira.
Na ocasião, a Delta e o governo Agnelo Queiroz estavam em disputa. A empreiteira cobrava faturas atrasadas relativas a contrato de coleta de lixo em Brasília, mas, segundo as gravações, Agnelo não aceitava acordo devido a rixa com o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) -a quem associava à Delta. Cavendish, então, teria ido a Brasília orientar a estratégia que Abreu deveria ter no contato com Agnelo Queiroz. “O Fernando falou para florear mais ainda”, diz Abreu.