Em agosto de 2014, fiquei sabendo que Diogo Mainardi havia estado no Brasil. Não nos encontramos. Enviei a ele uma mensagem reclamando, fazendo graça com o papel do amigo desprezado. Seguem o que escrevi e a resposta.
Na eleição presidencial de 2014, Diogo fez uma previsão: Marina disputaria o segundo turno com Dilma. Ele escreveu, então, um artigo para a Folha com o título: “Sou Marina (até a posse).”
Antes da publicação, ele me mandou o seguinte e-mail:
O “sei que você discorda” não se refere ao fato de os tucanos precisarem de puxão de orelha, mas ao voto em Marina. Eu já havia declarado que, caso ela disputasse a etapa final com Dilma, escolheria o voto nulo.
No e-mail que lhe mandei como resposta, reproduzi o post que fiz sobre o assunto, citando, com link, o seu artigo. O “caput” dessa mensagem e o que segue. Clique aqui para ler a íntegra. Reproduzo dois trechos:
“É uma divergência [com Diogo]? Claro que sim! É apenas uma delas! Temos, Diogo e eu, muitas outras. Felizmente! Aliás, temos, ele e eu, amigos; não pertencemos a quadrilhas ideológicas, eventualmente unidas pelo amor aos anúncios de estatais, como se tornou moda no governo petista. Aliás, Diogo também integra, a exemplo deste escriba, o grupo das “nove cabeças” que o sr. Alberto Cantalice, chefão do PT, gostaria de cortar. (…)
Quanto ao mais, imaginem se Diogo seria menos querido por causa de Marina Silva, PSB, eleições… O que lastimo, isto sim, repetindo Paulo Francis na orelha que fez para o livro de Mário Faustino, é o fato de a gente acabar se metendo nessas vulgaridades…”
Ele me enviou, então, uma resposta carinhosa:
Antes que a malta babe preconceitos, estimulada pelo próprio Diogo, o que vai acima espelha uma relação que eu imaginava fraterna, à qual nunca faltei. E ele sabe disso. Em dez anos, não pode apontar uma só desídia minha, uma só desatenção, uma só covardia. Quando as esquerdas botaram a sua cabeça a prêmio, saí em sua defesa. Bem, recorram à Internet. E o mesmo vale para Mario Sabino.
Nunca antes havia brigado com amigos por causa de política. Eu não faço isso. Mantenho amizades das mais variadas colorações ideológicas. Sim, sou opiniático, tendo a não condescender, posso fazer um debate bastante inflamado, mas sou leal. Não ataco pelas costas.
O meu modo de tratar divergências com amigos é o que está naquele texto que se refere a Marina. O de Diogo e Mario é o que se vê. É triste!
Lamento, obviamente, que as coisas tenham tomado esse rumo. Antes de Diogo e Mario tentarem me transformar no belzebu por razões puramente comerciais, o juízo que o primeiro fazia do meu trabalho era outro. Quando se tornou pública a notícia de que eu passaria a ser colunista da Folha, Diogo me escreveu:
Pouco depois, outra mensagem:
Como é que, em tão pouco tempo, o “melhor blogueiro, melhor colunista e melhor pauteiro” se transforma em alvo permanente de ataques? Creio que algum especialista em negócios tenha dito à dupla algo assim: “Olhem, para ganhar visibilidade depressa, tentem cortar a cabeça de algum amigo. Vai fazer barulho”.
E fez, como se vê.
Em um de seus e-mails, Diogo escreveu: “Minha editora inglesa pescou uma frase sua para fazer publicidade do livro, a melhor até agora”. Ele se referia ao livro “A Queda – As memórias de um pai em 424 passos”. Escrevi a respeito o que segue (post aqui):
“Da vida vivida, Diogo fez uma obra-prima. (…) ‘A Queda’ trata do amor incondicional que humaniza a razão e da razão que instrui o afeto.”
Seguem abaixo outro e-mail seu a respeito e a frase em italiano
Em outra mensagem, ele diz que foi a melhor coisa que se escreveu sobre seu livro.
Em 2013, eu o visitei em Veneza. Agradeci num e-mail a acolhida. E veio a resposta de um amigo.
Por que isso e por que só agora?
Creio que o meu silêncio, até agora, sobre os ataques feitos pelo site de Diogo e Mario esteja relacionado, sei lá, à estupefação. Até hoje não sei por quê. O arquivo do blog evidencia o tratamento que dispensei a eles ao longo dos anos. Que a recompensa, ao menos, tenha sido boa!
Por que não divulguei antes esses e-mails? Porque revê-los é fazer um percurso desagradável, doloroso até. Eu gosto de gostar dos meus amigos. Por maior que seja a repulsa hoje em dia, cultivo as boas memórias.
Que a dupla consiga encontrar um pouco de paz de espírito. Não deve ser fácil jactar-se de ser uma implacável máquina de odiar.
Honrei a amizade dos dois e pus a serviço dessa amizade aquilo de que dispunha: meu afeto, meu texto, minha disposição para a luta.
Exceção feita a alguma diatribe que requeira arbitragem da Justiça, não pretendo voltar ao assunto. Recolho-me ao silêncio de antes. O “Reinaldo” que está nesses e em centenas de outros e-mails de Diogo é o de verdade, é aquele que ele conheceu e que o socorreu sempre que isso se fez necessário.
O “Reinaldo” de “O Antagonista” é uma personagem que eles inventaram por razões, digamos, de mercado.
Que o preço tenha sido bom! Ao menos isso.
Que descansem em paz!