Os dados parciais da pesquisa Datafolha, em São Paulo, explicam por que o tucano João Doria pode até vencer no primeiro turno e servem como a demonstração da catástrofe que é a gestão do petista Fernando Haddad. Também fica claro o esfarelamento da candidatura de Celso Russomanno (PRB). Creio que, depois dessa, ninguém mais lhe dará tão facilmente a legenda, não é? O homem é bom de partida e um mico na chegada. E sempre por (de)méritos próprios.
Entre 26 de agosto e 1º de outubro, o tucano João Doria cresceu 33 pontos. Acho que nunca se assistiu a algo parecido — não em tão pouco tempo: saltou de 5% para 38% (44% dos válidos). Russomanno, em contrapartida, numa queda estrondosa, foi de 31% para 14%. O petista Fernando Haddad e a peemedebista Marta Suplicy ficaram quase no mesmo lugar: ele andou de lado para cima: de 8% para 14%, e ela, de lado para baixo: de 16% para 12%. Russomanno já pode comemorar a sua derrota espetacular, passe ou não para o segundo turno. Haddad ainda espera uma pequena vitória inútil: passar para o segundo turno. Já será um feito.
Pobres e ricos
O desastre do PT, ainda que Haddad venha a passar para o segundo turno, está dado. O PT, que se orgulhava de ser o dono do cinturão vermelho da cidade, viu fugir os pobres. O petista tem apenas 8% do eleitorado até dois salários mínimos. Já os ricos, acima de dez, têm uma percepção um pouco melhor dele: 13%. De forma humilhante para um petista, o prefeito vê o eleitorado mais pobre se dividir entre Russomanno (28%) e Doria (22%). Mudança nessa faixa de renda, diga-se, explica muita coisa.
No dia 26 de agosto, o tucano tinha 0% desse eleitorado; agora, 22%. O candidato do PRB despencou de 39% para 28%. A peemedebista largou com 20%, chegou a 27% — quando estava em segundo lugar nos votos gerais —, mas voltou aos 20%. Haddad não saiu do lugar: de 7% para 8%. Vai ver pobre não anda de bicicleta nem entende esse papo de pichação artística...
Eleitores de SP até dois mínimos
Eleitores de SP de 2 a 5 mínimos
Ainda numa faixa de renda modesta, de dois a cinco mínimos, o candidato do PSDB também disparou em um mês: passou de 5%, no dia 26 de agosto, para 29%. O mote do “João trabalhador”, de que a esquerda fez pouco caso, pegou. Marta teve um enorme prejuízo nessa faixa: largou com 18%, chegou a 23% e caiu para 12%. Entre os que recebem de cinco a dez mínimos, o tucano teve uma ascensão meteórica: de 11% para 41%. O petista ficou na mesma: de 15% para 17%. Acima de dez mínimos, Doria atinge a sua melhor marca: 55% — partiu de 19%. Petistas não se alegrem. Nessa faixa, Haddad tem sua segunda melhor marca: 13%.
Eleitores de SP de 5 a 10 mínimos
Eleitores de SP acima de 10 mínimos
Escolaridade
Outro índice de pobreza, como se sabe, é a escolaridade. Ah, vai ver o petista e meio socialista Haddad está com o povo, né? Nada! No dia 26 de agosto, só 6% dos que têm o ensino fundamental votavam nele; agora, são 8%. Já Doria, aquele que Lula e os petistas dizem ser o “coxinha”, saltou de 2% para 23%, em empate técnico com Russomanno, que tem 27%. Chegou a atingir 35%.
Eleitores de SP com ensino fundamental
Eleitores de SP com ensino médio
O tucano está na frente entre os que têm o ensino médio: de 5% para 29%. O peerrebista despencou de 40% para 27%, e o petista passou de 7% para 10%. Marta voltou ao mesmo lugar depois de ter crescido: 17%, 23% e 16%. Entre os com ensino superior, Doria saiu de 9% e está com 38%, depois de ter alcançado 43%. Também em São Paulo, é entre universitários que o esquerdista consegue a melhor marca, mas apenas 15%. Russomanno começou com 18% e tem 10%, depois de ter caído para apenas 7%. Também nesse caso, Marta subiu para depois cair: de 9% para 12% e daí para 8%.
Eleitores de SP com ensino superior
Idade
Acho um tanto estranho, mas está lá: Russomanno ainda aparece numericamente à frente entre os jovens de 16 a 24 anos, mas empatado com Doria: 25% a 22%. À medida que a idade aumenta, o candidato do PRB despenca, e o tucano dispara. Entre 25 e 34 anos, o peerrebista cai de 32% para 20%, e o tucano sobe de 3% para 25%; entre 35 e 44, o primeiro sai de 36% e vai para 24%, e o outro, de 5% para 28%. Entre os eleitores de 45 a 60, um vai de 28% para 20%, e o outro ascende de 7% para 31%. Os eleitores com mais de 60 adotaram Doria para valer: saiu de 7% e está com 42%; Russomanno caiu de 32% para 22%.
E o tal PT jovem? Pois é… Haddad largou com 17% entre os de 16 a 24 anos, chegou a 11% e se recuperou um pouco: 16%. Foi nessa faixa que Marta teve a sua queda mais expressiva em nove dias: de 32% para 17%. Também caiu bastante entre os acima de 60: de 19% para 8%.
Cinturão vermelho?
O tucano João Doria lidera em todas as regiões da cidade: 25% na Zona Leste, 27% na Norte, 32% na Sul, 37% no Centro e 45% na Oeste. Russomanno empata tecnicamente com ele na Norte e na Leste, com 24%, mas naufraga no Centro, com apenas 12%. O pior resultado de Marta é na Oeste, onde caiu de 17% para 5%. Viu seu prestígio se esboroar no Centro: de 20% (no auge) para 10%. Pois é… Parece que o cinturão vermelho petista é coisa do passado: Haddad vai mal em todas as regiões, e as piores são as zonas Leste e Norte, onde tem apenas 10% — 11% na Oeste e 13% na Sul.
Eleitores de SP – Região Central
Eleitores de SP – Zona Norte
Eleitores de SP – Zona Sul
Conclusão
– Haddad nunca conseguiu ser o candidato dos pobres, como o PT gostaria;
– O tucano João Doria conquistou o eleitorado de menor renda e mais baixa escolaridade, o que explica a sua vantagem;
– Haddad ganha um pouco de fôlego, mas, por enquanto, anda de lado;
– Russomanno se consolida como o grande mico eleitoral: larga bem, mas não tem fôlego;
– Marta largou bem, ganhou ânimo, mas tudo indica que o trabalho de desconstrução do PT acabou dando resultado;
– Dados os números, se a eleição fosse daqui a uma semana, Doria venceria no primeiro turno — e essa possibilidade não pode ser descartada agora.
Eleitores de SP – Zona Leste