Volta e meia Gilberto Dimenstein gosta de se apresentar como um colunista isento, só preocupado com o bem do próximo, daí ser uma espécie, assim, de Mãe Lucinda de certo tipo de ONGs. Mas pode, eventualmente, agir em parceria com Nilo, o malvadão do lixão, papel que parece ter sido desempenhado a vida inteira por José de Abreu, dada a verossimilhança com que empresta dimensão moral à personagem. A Mãe Lucinda do colunismo produziu um dos mais impressionantes, vá lá, artigos de sua carreira, que reproduzo abaixo, em vermelho. Leiam. Volto em seguida.
Marta é a nova estrela do PSDB?
A pergunta do título é uma das principais questões eleitorais na cidade de São Paulo, especialmente depois que ela recusou comparecer à convenção que formalizou a candidatura de Fernando Haddad. Temos aqui algumas possibilidades.
Marta continua Marta, comandada muitas vezes mais pelas emoções do que pela razão. Ela tinha tudo para se reeleger (afinal, contava a seu favor com boa popularidade e ações positivas em sua administração), mas perdeu, em boa parte, pela sua baixa inteligência emocional. Estaria ela agindo apenas pelo ressentimento de ter sido preterida?
Ela previu que a escolha de Haddad seria o melhor caminho para a derrota. Será que ela não quer desmontar sua previsão?
Outra possibilidade é um cálculo político. Essa é uma eleição dura, Marta tem força na periferia. Sem seu apoio, Haddad, que, por enquanto, é 100% “lula-dependente”, teria ainda mais dificuldades. Será que ela está barganhando um cargo federal, talvez um Ministério, ou a candidatura ao governo de São Paulo?
Seja lá o que for, até esse momento ela conseguiu virar uma estrela do PSDB.
Voltei
Os “Nilos” do lixão estão excitados já desde o título. Ao associar Marta ao Belzebu do petismo, ainda que de forma interrogativa, ele busca forçar a senadora a entrar na campanha de Fernando Haddad. Afinal, petistas já se juntaram e se juntam ao que pode haver de pior na política brasileira (escolham!), mas tucano??? Ah, isso nunca. Vejam o caso de ex-presidentes. Lula acha FHC uma figura desprezível; o Babalorixá só disputaria a Presidência, disse, se fosse para impedir que um tucano voltasse a governar o país. Já Sarney e Collor são aliados de valor…
Dimenstein, a Mãe Lucinda do onguismo, é um notório apologista de Marta, como sabem leitores e ouvintes. Admite, vejam ali, que ela “tinha tudo para se reeleger” (a palavra nem cabe porque só se fala em “reeleição” em caso de mandatos consecutivos). Ocorre que não é candidata. E por que não é? No melhor estilo stalinista, Dimentein conta assim a história: porque é “comandada muitas vezes mais pela emoção do que pela razão” e porque “tem baixa inteligência emocional”.
Notem que, em nenhum momento, ele lembra que a senadora foi atropelada por Lula. Omite que lhe puxaram o tapete, que Lula entrou pessoalmente na disputa em São Paulo para lhe tirar os apoios que tinha, deixando-a a falar sozinha. A tão proclamada “democracia interna” do partido foi para o diabo. Em Recife, o processo é ainda mais bruto: o prefeito João da Costa venceu as prévias, mas Lula quer que o candidato seja Humberto Costa. Foi o que o Babalorixá vendeu ao governador Eduardo Campos (PSB), que exige essa mercadoria para apoiar Haddad em São Paulo.
Nada disso está no psicologismo barato da Mãe Lucinda da CBN. No último parágrafo, lembra que Haddad ainda é “100% lula-dependente” e que precisa de Marta. Precisa? E a trata como velharia ultrapassada num programa popularesco?
“E você? Virou defensor da Marta”?
“Como assim, Reinaldo? O Dimenstein, um martófilo convicto, agora a critica, e você se tornou defensor da ex-prefeita?” Não! Faz três ou quatro dias, eu a critiquei duramente aqui por causa de uma bobagem que ela disse sobre o caso Gilmar Mendes-Lula. Até fiz uma brincadeira, convidando-a a debater Maquiavel. Não mudei meu ponto de vista a respeito da senadora. Ela não passou a ser uma política do meu gosto porque faltou à festa de Haddad — até porque acho que ela acabará não resistindo às pressões do partido e das Mães Lucindas de certa área da imprensa.
Mas a obrigação de um analista, ainda que seja do tipo que opina, é destrinchar os fatos em vez de omiti-los. Dimenstein não diz em nenhum momento por que Marta teve a reação que teve. Trata-a apenas como aquela que teve um chilique, um ataque de frescura, uma reação destemperada. E psicologiza a reação: teria agido com a emoção, sem inteligência emocional. Só faltou chamá-la de “mulherzinha” e de “dondoca”.
Vocês viram quanto tempo demorou para que Marta passasse a virar saco de pancada da turma “deles”? O recado é simples: “Quer voltar a ser uma de nós? Então faça a coisa certa!”