Quem diria, não? A burocracia cleptocrata da Fifa durou mais do que o comunismo soviético, mas caiu com a mesma facilidade, ruiu. Quatro dias depois de eleito, Joseph Blatter anuncia a renúncia. Ainda ficará alguns meses no cargo até preparar as novas eleições. Talvez seja o tempo de tentar esconder algumas provas, sei lá.
A Fifa, como a CBF, é um ente privado. Em princípio, escolhe seus caminhos e deve satisfação só a seus sócios. Ocorre que lida com uma paixão pública e, mais do que isso, com montanhas de dinheiro público. A Copa do Mundo disputada no Brasil deixou clara a interferência que têm os governos locais nas disputas. Blatter está renunciando porque ganhou, mas, obviamente, não levou. A paixão popular mundo afora certamente continuaria, mas os patrocinadores tenderiam a fugir.
Mais: complica-se a situação de seu braço-direito, aquele que, quando quer sugerir que as pessoas devem se mover, apela logo ao traseiro (“arse”). Uma carta revelada pelo SABC, canal sul-africano de TV, demonstra que ele sabia da transferência de US$ 10 milhões, que as investigações feitas nos EUA asseveram serem propina, para Jack Warner, então presidente da Concacaf, a Confederação de Futebol das Américas do Norte e Central.
O “Padrão Lula”, adotado por Blatter e Valcke (“Não sei de nada”) não colou. O velho burocrata, no comando de uma clepetocracia, não está renunciando ao cargo por amor ao futebol ou por boniteza. Suponho que, se insistir, ainda acaba na cadeia.
Vamos ver a natureza da reforma que se vai implementar. Tudo indica que o terremoto no mundo do futebol está apenas no começo. As investigações conduzidas pela Polícia Federal no Brasil indicam que os entes ligados à Fifa não seguiam moralidade muito distinta.
Pois é…
Mal sabíamos, né? Mas, no Brasil, a gente já tinha um governo “Padrão Fifa”.