Por Tai Nalon e Laryssa Borges, na VEJA.com. Volto no próximo post
Defenestrado do governo Dilma Rousseff por sucessivas irregularidades no setor de tranportes, o ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antonio Pagot, se fez de vítima em depoimento nesta terça-feira na CPI do Cachoeira no Congresso Nacional e disse ter sido apeado do governo federal após um “complô” entre o então diretor da empreiteira Delta no Centro-Oeste, Claudio Abreu, e o contraventor goiano Carlinhos Cachoeira. Em sua versão, embora tenha dito não conhecer Cachoeira, ele perdeu o cargo no Dnit não por seus defeitos, mas por suas qualidades e proatividade. Na verdade, esse é só mais um ato da farsa de Pagot.
“Saí do governo pela atuação que eu vinha tendo no Dnit. Não dava vida boa a nenhuma empresa, empreiteira ou prestador de serviço. Era muito exigente. Chamava as empresas e os consórcios, exigindo a correta execução de obras, a manutenção dos cronogramas”, disse Pagot. “Especialmente em 2010, vínhamos tendo alguns problemas com a Delta em relação à execução de obras.”
Na gestão de Pagot, a Delta multiplicou seus negócios, transformando-se na maior prestadora de serviços do governo, com faturamento superior a 3 bilhões de reais em contratos de rodovias, muitos deles eivados de irregularidades. Gravações telefônicas captadas pela Polícia Federal desmontam a tese do ex-diretor do Dnit. Os diálogos mostram que a quadrilha de Cachoeira estava muito preocupada com a demissão de Pagot, que após a divulgação das irregularidades foi convocado para depor perante uma comissão do Senado e ameaçava fazer revelações sobre o esquema de propina no ministério.
Em um dos diálogos, Cachoeira fala com o representante da construtora no Centro-Oeste que, se Pagot dissesse qualquer coisa sobre o esquema, estaria dando “um tiro no próprio pé”. Ele, de fato, se calou diante da comissão do Senado. O ex-diretor do Dnit, segundo a PF, participou de um jantar com o senador Demóstenes, Cachoeira e o dono da Delta, Fernando Cavendish, para tratar dos negócios da empreiteira. Essa relação explicaria em parte o sucesso da Delta, que tinha em seu rol de “consultores” o ex-ministro José Dirceu, apontado pelo Ministério Público como o “chefe da quadrilha do mensalão”.
Pagot, que compareceu à CPI sem o apoio de advogados, se definiu como “pau para toda obra” no governo de Mato Grosso e listou obras que foram desenvolvidas sob sua responsabilidade. Exonerado do cargo no ano passado, na esteira dos escândalos de corrupção no Ministério dos Transportes, vem sendo apontado por parlamentares como potencial homem-bomba do governo Dilma Rousseff. Ao contrário das expectativas, usou seus vinte minutos iniciais apenas para descrever seu currículo, tecer elogios ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dizer que tinha apoio do petista no Dnit. “Lula necessitava de um tocador de obras”, resumiu.
Demóstenes
No depoimento à CPI, Pagot contradisse Cavendish e Demóstenes ao afirmar que o empresário conhecia o ex-senador Demóstenes Torres. Disse que foi em fevereiro de 2011 a um jantar no apartamento funcional de Demóstenes onde estavam o próprio Cavendish e o ex-diretor da Delta no Centro-Oeste, Claudio Abreu.
Pagot relatou que o ex-senador, na ocasião de um jantar oferecido pelo próprio Demóstenes, pediu a ele, em conversa reservada, contratos com o Dnit. “‘Olha, eu tenho dívidas com a empresa Delta, ela tem me apoiado em campanhas, e eu preciso ter alguma obra com o meu carimbo’”, relatou Pagot. “Eu respondi a ele que lamentava, que não podia atendê-lo, que não tinha possibilidade nenhuma de o diretor geral do Dnit ir para o mercado e dizer: olha, reservem uma obra para a Delta.”
Cavendish, que tem audiência marcada para esta quarta-feira na CPI, em entrevistas à imprensa, afirmara que desconhecia o ex-senador. Amanhã, com pedido de habeas corpus, deve permanecer em silêncio. Durante seu processo de cassação no Senado, Demóstenes também falava não ter qualquer tipo de relação com o ex-diretor da Delta.
Paulo Preto
No depoimento à CPI, o ex-diretor-geral do Dnit disse conhecer o engenheiro Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, de negociações envolvendo a Dersa (Departamento Rodoviário S/A) e a autarquia federal sobre o trecho sul do Rodoanel de São Paulo. Ao longo das negociações sobre essa obra, cujo valor total chegava a 3,6 bilhões de reais, Pagot disse que foi pressionado a concordar com um aditivo para a obra, no valor de 264 milhões de reais.
Interlocutores dele revelaram, conforme relato do próprio Pagot à CPI, que os recursos do termo de ajustamento de conduta (TAC) que tratava desse aditivo seria destinado à caixa dois das campanhas dos tucanos José Serra e Geraldo Alckmin e do pessedista Gilberto Kassab.
Luiz Antonio Pagot disse que apenas ouviu falar das suspeitas e informou que não pode provar que os recursos foram desviados. “O que notei no período foi uma insistência muito grande para eu fizesse uma revisão da minha posição ou justificar adequadamente por que não queria assinar o aditivo. Um conhecido meu que trabalha em uma empresa disse ‘cuidado com esse aditivo que ele tem finalidade de (abastecer) com as campanhas do Serra, Alckmin e Kassab’”, relatou. Para ele, no entanto, as suspeitas se resumem a “uma conversa de bêbado, de botequim, que não pode se provar”.
Campanha de Dilma
Questionado pelo relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), Pagot também disse ter atuado como arrecadador da campanha de Dilma Rousseff à presidência da República, mas, sem trazer novidades, disse que o caixa recolhido por ele entre empreiteiras de pequeno e médio porte foi declarado à Justiça Eleitoral. A atuação do ex-dirigente no processo eleitoral foi feita a pedido do tesoureiro da campanha dilmista, José de Fillipi.
“Acreditei que não estava cometendo nenhuma ilegalidade. De maneira alguma associei qualquer doação às atividades do Dnit. Não estabeleci porcentuais. Posteriormente ao meu pedido, algumas empresas, não passou de meia dúzia, me passaram recibo comprovando a doação legalmente”, afirmou.
Pau para toda obra
À frente do Dnit, o depoente disse ter enfrentado a máquina burocrática do governo e o “anacronismo” das instituições. Em todo caso, se munindo de acusações de que teria sido individualmente responsável pelas irregularidades na autarquia, conforme revelou VEJA no ano passado, citou trechos de documentos internos para defender que “a execução de todas as tarefas do Dnit estão intrinsecamente ligados aos trabalhos da diretoria colegiada”.
Pagot exaltou também o reconhecimento de sua gestão por Tribunal de Contas da União e Controladoria Geral da União, se classificou como “trabalhador incansável e obstinado” e descreveu seu currículo como executivo nas áreas de agricultura e infraestrutura. Disse que foi “pau para toda obra” durante a gestão de do senador Blairo Maggi (PR-MT) quando governador do Mato Grosso, época em que ocupou a Secretaria de Infraestrutura. Assessores de Pagot, de ex-diretores do Dnit e parlamentares do PR, incluindo não integrantes da CPI, acompanham o depoimento.