Ontem, escrevi um longo post sobre o relatório Goldstone, que acusou Israel de cometer crimes de guerra. Vocês se lembram o espaço que a imprensa deu ao texto. Na sexta, Goldstone disse que estava errado e voltou suas baterias contra o Hamas. A imprensa brasileira ignorou o assunto — o Estadão publicou uma pequena nota ontem, mas, ainda assim, dando destaque à reação do governo israelense. No mais, é silêncio. Sim, eu havia dito que aquele relatório era uma porcaria. A lógica se vingou da conversa mole em um outro caso que já foi rumoroso: o fechamento da prisão de Guantánamo.
Eu não fui cobrir as eleições americanas. Fiquei sentadinho aqui, lendo e escrevendo. Quando lia que o então candidato democrata à Presidência, Barack Obama, prometia fechar Guantánamo, escrevi: “Que cascata! Se ganhar, não vai fechar”. Ele ganhou. E prometeu que cumpriria a sua promessa até o começo de 2010. E Tio Rei: “Huuummm… Não vai cumprir”. Depois ele afirmou que levaria os presos para serem julgados em solo americano. E este bloguezinho teimoso: “Ih, não vai conseguir”.
Ontem, todos vocês leram que o facínora Khalid Sheikh Mohammed (foto), um dos que planejaram os atentados de 11 de Setembro, e quatro de seus cúmplices serão julgados por um tribunal militar… na base de Guantánamo, cuja prisão continua abertíssima, abrigando 172 prisioneiros. Fora a burocracia comunista, os hóspedes da base são as únicas pessoas que realmente comem fartamente em Cuba…
O que me dava tanta certeza de que Obama mentia — ou não conseguiria fazer o que dizia que faria? A legislação! No dia 10 de novembro de 2008, Obama não havia nem assumido ainda, e escrevi aqui:
Qual será a resposta de Obama para os terroristas de Guantánamo? Levá-los para julgamento nos EUA significará, com raras exceções, dar-lhes a liberdade e as garantias de que gozam os cidadãos americanos. O novo presidente pode soltar na América os cachorros loucos. Porque a legislação do país, pensada para tempos de paz, prevê garantias que não compreendem a prática do terrorismo. É confortável pensar que há pobres inocentes em Guantánamo. Poucos se dão conta de que a grande maioria foi feita prisioneira no campo de batalha, servindo a milícias dedicadas ao terrorismo.
Ou Obama cria tribunais especiais nos EUA para julgar esses caras – e não é uma operação fácil, trivial – ou vai premiá-los com a liberdade. Essa é mais uma notícia que está na esfera de uma das mudanças havidas na América: Barney, o cão ranheta, cedeu seu lugar ao vira-lata “Press”, que está sempre abanando o rabo. Talvez “Press” considere que um tribunal de exceção em solo americano seja bem mais decente do que em Guantánamo.
Volto
E aí? Estava tudo dito ali. Para quem não se lembra, “Barney” era o cachorro da família Bush. Como Obama fez quase um concurso público mundial para escolher o seu cachorrinho, sugeri que ele se chamasse “Press”—- “Imprensa”, tal era a “babaovobamania” a que se assistia.
Em maio de 2009, o Congresso rejeitou os recursos extras que Obama pediu para fechar Guantánamo. Ele ficou bravo e discurso contra Bush. E o nosso blog mandou ver:
Não foram os republicanos que negaram a grana para Obama fechar Guantánamo. Foram os democratas. A razão é simples: ele não tinha dito o que fazer com os prisioneiros. Ficando tudo como estava e ainda está, muitos serão soltos em território americano. Atacar Bush agora é fácil, simples e fora de hora. O companheiro teve a chance de fazê-lo durante a campanha eleitoral e foi muito bem-sucedido em seu trabalho. Tanto é assim que ganhou a eleição. E, na pauta de sua vitória, estava a solução para Guantánamo. Até este modestinho blog brasileiro dizia: “Não vai cumprir a promessa; não como está dizendo”. Era uma questão de lógica e de marco legal. Pois bem. Digamos que leve todos para solo americano. Alguns continuarão presos indefinidamente e sem julgamento. Por acaso essa condição, em solo americano, honra mais “os valores” do que a outra, presos também indefinidamente na base militar? Tenham paciência, né?
Em 2008, como viram, antes ainda de sua posse, falei que a única alternativa para fechar Guantánamo era criar uma legislação de exceção, só para aqueles presos. Pois acreditem: Obama tentou isso. Esse homem é um diluidor de instituições. Arrancou da ONU uma resolução que permite qualquer coisa e foi à guerra na Líbia sem a autorização do Congresso.
Reitero: não estou exaltando a minha bola de cristal, não! Até porque não a tenho. É que, a exemplo de vocês, também não agüento mais ler torcida como se fosse fato. Eu analiso, opino, tenho lado, convicções, ideologia, o diabo a quatro. E todo mundo sabe quando é opinião porque deixo claro. O leitor tem como se defender. A imprensa, com raras exceções, está se tornando um troço um tanto insalubre. Esta sendo esmagada pelo politicamente correto e por supostos “bons sentimentos”.
Encerro voltando ao Relatório Goldstone. Se Israel foi para o paredão moral quando o texto foi divulgado, por que, agora, quando o próprio autor admite que errou, o assunto não merece o mesmo destaque? A resposta é simples: no mundo das “notícias” que já estão prontas, Israel será sempre o vilão, e os palestinos, as vítimas. Isso, para eles, é fato. Se dá de acontecer o contrário, então é ideologia.
Com Obama aconteceu a mesma coisa. Como Guantánamo era coisa de Bush, aquele satã, se Obama dizia que iria fechá-la, então é porque ele iria, certo? Pois é…