Os descolados do Avaaz, liderados pelo ético Abramovay, apelam ao preconceito cultural, de classe, ideológico e racial e usam imagem de Tiririca, sem pedir autorização, para defender reforma política que interessa ao PT
Vocês sabem como são os “independentes” do Brasil, não é mesmo? Costumam independer de tudo, inclusive dos fatos. É o caso do site Avaaz, que, no Brasil, é comandado pelo petista Pedro Abramovay, ex-secretário nacional de Justiça (gestão Márcio Thomaz Bastos), de quem também foi assessor especial. Já então indicado por José Eduardo Cardozo para […]
Vocês sabem como são os “independentes” do Brasil, não é mesmo? Costumam independer de tudo, inclusive dos fatos. É o caso do site Avaaz, que, no Brasil, é comandado pelo petista Pedro Abramovay, ex-secretário nacional de Justiça (gestão Márcio Thomaz Bastos), de quem também foi assessor especial. Já então indicado por José Eduardo Cardozo para a Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (esse nome é péssimo, convenham!), concedeu, antes de tomar posse, uma entrevista ao Globo onde propunha que também os pequenos traficantes, a exemplo dos simples consumidores de drogas, não fossem presos. Dilma não gostou e o demitiu. É um dos mais fanáticos defensores da descriminação das drogas. De quais? De todas, ora!
Abramovay pertence àquele grupo de carnívoros petistas que gostam de se disfarçar de pavão. Suas teses costumam ter sempre a aparência vistosa dos interesses do povo. Basta que se submeta o que pretende a uma análise, ligeira que seja, e lá está ele a serviço do partido. Compõe a turma que aposta que mais vale uma guerra de valores do que o confronto político. E eles fazem isso muito bem. O Avaaz é um dos seus instrumentos. Ainda que possam existir lá uma petição ou outra contra esta ou aquela figuras ou teses do PT e da esquerda, trata-se apenas de tributos irrelevantes que a virtude presta ao vício… Em essência, o site, no país, serve ao partido principalmente e às esquerdas de modo geral. Esse Abramovay é tão ético, mas tão ético, que deu curso a uma petição para cassar o registro profissional de psicólogo do pastor Silas Malafaia, mas tirou do ar uma petição que pedia o contrário. E assim procedeu justamente quando a petição pró-Malafaia superava a outra. E ainda fez praça disso, dizendo-se orgulhoso. Os seus abduzidos, ora vejam!, aplaudiram a sua coragem de defender a própria covardia e de admitir que, na prática, usava uma entidade internacional para perseguir aqueles de quem não gosta.
Acho que ele já está bem caracterizado, não? Petista, peixinho de Márcio Thomaz Bastos, defensor da descriminação das drogas, favorável à liberdade para “pequenos traficantes”, chefão do site Avaaz. Mas muito independente.
Ao ponto
Muito bem! Abramovoy deu início a uma petição em defesa de uma reforma política que institui uma aloprada votação em dois turnos para o Poder Legislativo. Nem entro em minudências porque a ideia é de tal sorte esdrúxula, que restará como peça do folclore nacional — ainda que conte com a assinatura da OAB. Bem, vênia máxima, não é primeira bobagem em que a entidade se mete. No Rio, ela quase anda de braços dados com os black blocs. Adiante…
A proposta não para aí, não. De substantivo mesmo, o que Abramovay e seus abduzidos iluminados querem é o financiamento público de campanha, só que numa roupagem moderninha. Só as doações de pessoas físicas seriam permitidas, limitadas a R$ 700 (por que esse valor e não R$ 631? Não tenho a menor ideia; deve ser algo de caráter místico). As empresas, então, estariam proibidas de doar. Faltaria dinheiro. Aí o estado entraria com a sua parte — como se já não houvesse hoje grana pública das eleições via Fundo Partidário e renúncia fiscal para as emissoras que veiculam os horários político e eleitoral gratuitos. É coisa que passa fácil dos R$ 600 milhões por ano.
Ora, ora, como é que o dinheiro público seria distribuído? Há de haver um critério. A mesma grana para todo mundo é impossível, certo? Ou legendas de aluguel viverão no paraíso. O mais provável é que o tamanho das bancadas federais determine o percentual de distribuição. Quem ganha? O PT em primeiro lugar, e o PMDB em segundo.
Mais: com a proibição das doações de empresas privadas, aconteceria o quê? O óbvio. Aumentaria brutalmente o caixa dois de campanha. Eis a tese de Abramovay. Eis a tese da OAB.
Preconceito asqueroso
Todo mundo sabe como Tiririca foi eleito e com que campanha. Mas vejam só: não se tem notícia, não que eu saiba, de que ele tenha se metido em alguma lambança ou atuado de forma ingênua em alguma tese ruim para o país. Jamais votaria nele, por certo. Mas é Tiririca quem concorre para desmoralizar a democracia brasileira ou João Paulo Cunha e José Genoino (que se recupere! Trato aqui de política), que, mesmo processados pelo STF, integraram nada menos do que a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara? João Paulo chegou a presidi-la. É Tiririca quem desmoraliza a democracia brasileira ou um ministro da Saúde que decide importar mão de obra escrava?
Pois a imagem em defesa da nova proposta, usada pelo Avaaz como antiexemplo, é justamente a de Tiririca. Muito ético, o Avaaz nem sequer pediu autorização nem ao deputado nem ao artista popular. A propósito: se Tirirca é a imagem da distorção política porque, com 1,35 milhão de votos, ajudou a eleger quem voto não tinha (aliás, um dos beneficiários foi o notório delegado Protógenes Queiroz…), por que, então, não usar a imagem de Chico Alencar (PSOL), que, com 2409.671 votos no Rio, levou para a Câmara o ex-BBB Jean Wyllys, que obteve ridículos 13.016 votos? O sistema é ruim quando elege Tiririca, mas é bom quando elege Jean Wyllys? Que tal comparar a atuação parlamentar — não a gritaria midiática — desses dois deputados?
Tratar, a esta altura, Tiririca com esse viés é só uma manifestação asquerosa de preconceito, a que esses descoladinhos de esquerda da elite brasileira se entregam à vezes, com o seu narizinho empinado de quem viu a coisa. É preconceito cultural — Tiririca tem fama de ignorante. É preconceito de classe: Tiririca tem cara de pobre. E, não sei não, é possível que subjaza, ainda que de modo sutil, o preconceito racial: Tiririca é mulato. E é preconceito ideológico: Tiririca não é de esquerda nem fala em nome de alguma minoria.
A proposta que o senhor Abramovay e seu site defendem, que conta com a chancela estúpida da OAB, entregaria o cofre das eleições ao PT e arreganharia as portas para o caixa dois — coisa na qual o PT já provou ser igualmente bom.
Em suma, a tese defendida por Abramovay é outra droga. Assinar a petição corresponde a se tornar um fiel servidor de José Dirceu.