Ai, ai… Seus tataranetos ouvirão falar da tricentésima quinquagésima sétima fase da Operação Lava-Jato! Isso ainda vai acabar gerando uma espécie de fastio. Mas falo disso daqui a pouco.
A dita 19a fase da operação mira a diretoria Internacional da Petrobras, que foi ocupada, na fase da lambança, por Nestor Cerveró e Jorge Zelada. A área era considerada um feudo do PMDB — e, por isso, a coisa pode ter alguma importância. É sabido que existe uma pressão imensa nos bastidores para que a força- tarefa quebre as pernas do PMDB, de sorte que o partido não seja visto pela sociedade como alternativa segura ao governo Dilma.
Se a legenda for pega por coisas irregulares que fez, que arque com as consequências. Eu me nego a ser aquele que pensa com a corda no pescoço. Se ficar evidenciado que o PMDB, a exemplo do PT, também não pode assegurar a governabilidade e vai se afundar junto com o partido que era cabeça de chapa, que se façam eleições, ora! Até agora, não há evidência de que o escândalo toque em Michel Temer, vice-presidente da República, apesar da gritaria de bastidores para que o lama lhe manche o paletó.
Cuidados
Acho, sim, que a força-tarefa precisa tomar certos cuidados. Há o risco, em breve, do desinteresse. Que se investigue tudo. Só não sei por que tantas fases de uma só operação, sempre com nomes que pretendem ter um apelo simbólico. Acho essa marquetagem desnecessária e, se querem saber, incompatível com a seriedade e a gravidade das coisas.
O que está em curso é muito triste. “Nessun dorma”, em italiano, quer dizer “Ninguém durma”, e, obviamente, todo mundo entendeu o recado que a Polícia Federal está a passar. As duas palavras aludem, já informou a imprensa, a uma ária da ópera “Turandot”, de Puccini. Fosse para entrar no mérito, a apropriação é, intelectualmente falando, imprópria, como era, aliás, a “erga omnes”, que, em direito, tinha sentido diverso do pretendido por quem batizou uma das fases da Lava-Jato.
O que estou dizendo é que se pode e se deve investigar todo mundo que tem de ser investigado sem precisar anunciar que a “lei é para todos” — é claro que é — ou que ninguém deve dormir; nesse caso, suponho, é porque a Polícia pode bater à porta.
Se a Operação Lava-jato se dispensar desses apelos, pode até ganhar em seriedade. E também acho que pode se dispensar de anunciar uma ária nova a cada três ou quatro semanas. Sem prejuízo, insisto, de cumprir a sua missão e de levar a sua ópera até o fim.