Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Reinaldo Azevedo

Por Blog Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

Quando uma capa de jornal expõe o espírito fascistoide dos supostamente bem-pensantes

Capa do jornal “Extra”, sobre a eleição no Rio, combina vários equívocos;  e todos eles estão contra o povo

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 30 jul 2020, 21h26 - Publicado em 1 nov 2016, 01h52

A reação das esquerdas cariocas, de Marcelo Freixo (o psolista derrotado) em particular, e de setores consideráveis da imprensa à vitória de Marcelo Crivella (PRB) para a Prefeitura do Rio é das coisas mais vergonhosas que vi em muitos anos. Raramente a gente pode identificar preconceitos tão diversos juntos, amarrados, compondo um eixo de valores. Raramente, em suma, os fascistas que se querem do bem foram tão explícitos.

Dito de outro modo: os esquerdistas endinheirados da Zona Sul estão revoltados com o povo das zonas Norte e Oeste. O melhor desempenho do socialista branco, de olhos azuis (é um “critério Lula” de análise política), se deu em Cosme Velho e Laranjeiras: 67,09% dos votos válidos. Crivella, o candidato que, segundo as esquerdas, seria contra os pobres, triunfou pra valer em Cosmos, Paciência e Santa Cruz: 77,82% dos votos válidos. Acabou a paciência dos ricos distributivistas com os pretos de tão pobres e pobres de tão pretos. Eles não sabem votar!

Um emblema do inconformismo com o resultado das urnas foi a capa do jornal “Extra” desta segunda, uma das manifestações mais agudas de mau jornalismo em muitos anos. Ali estava o retrato do inconformismo com o povo, da leitura xucra da política, do fel antipopular transformado em gracinha supostamente criativa, do trocadilho infeliz alçado à condição de análise política. Vejam.

jornal-extra

O que se tem aí? Em letras garrafais, lê-se: “O RIO É UNIVERSAL”. É evidente que se faz uma alusão direta à denominação pentecostal à qual pertence o prefeito eleito. Ao mesmo tempo, tenta-se emprestar a essa palavra o sentido denotativo: universal é aquilo que diz respeito a todos; é o contrário do particular, do isolado. Nota à margem para quem não sabe: universal, em grego, é “katholikós”. Daí deriva a “Igreja Católica”, aquela que seria de todos, não apenas de um povo eleito. Sigamos com a capa do Extra.

Continua após a publicidade

Abaixo do título principal, vêm, então, os grupos que comporiam a universalidade do Rio, que seria o oposto da Igreja Universal: “É dos gays, do Carnaval, das mulheres, da diversidade, da umbanda, dos negros, do Cristo, da tolerância”. Na sequência, em letras maiúsculas: “AGORA É CONTIGO, CRIVELLA”.

É evidente que uma capa como essa não será analisada pelos professores de esquerda das faculdades de jornalismo. Trata-se de uma das maiores imposturas de todos os tempos. Analisemos as suas implicações:
1: é evidente que se está a sugerir que o Rio dos “gays, do Carnaval, das mulheres, dos negros etc.” não votou em Crivella, mas em Freixo. Ocorre que o mapa eleitoral evidencia justamente o contrário;

2: o Rio que votou em Freixo é, ele sim, o menos universal de todos: é majoritariamente branco, endinheirado e de esquerda;

Continua após a publicidade

3: se gays, admiradores do Carnaval e do Cristo, mulheres e negros tivessem votado em Freixo, o prefeito eleito do Rio seria… Freixo!;

4: noto uma sutileza eloquente na capa, referendada pela imagem: o “Extra” diz que o Rio é “da umbanda”, mas não diz que a cidade é “do cristianismo”, e sim “do Cristo”, referindo-se à estátua;

5: na diversidade imaginada pelo formulador da capa, cabe a umbanda, mas não o cristianismo, embora, como se sabe, os católicos, protestantes tradicionais e evangélicos componham a esmagadora maioria da população do Rio e de qualquer cidade;

Continua após a publicidade

6: a capa infere o óbvio: ser “Universal” (da igreja) corresponderia a ser um antiuniversalista — e essa universalidade estaria representada pelo candidato do PSOL, com o seu ódio ao modelo que permite a diversidade humana: o capitalismo.

7: o editor do “Extra” foi modesto no apoio de Freixo à universalidade. Deveria ter dito que o Rio é também dos black blocs, não? Afinal, foram eles que infernizaram por meses a vida dos cariocas, sem que Freixo jamais tenha se prontificado a censurar a desordem que promovem.

Para encerrar
O “Extra” pertence ao grupo Globo. Crivella é sobrinho de Edir Macedo, chefão da Universal e dono da Record. Nesse caso, o exercício de preconceito e mau jornalismo só serve para alimentar a suspeita, que me parece falsa, de que estamos apenas diante de uma briga de dois grupos de comunicação. O menor se meteria em política para tentar agredir o maior; e o maior reagiria em nome da diversidade, mas com o propósito de também responder a uma questão originalmente comercial.

Continua após a publicidade

É tudo ruim, não é mesmo? No fim das contas, estamos falando é de desrespeito à vontade do eleitor. A maioria quis um Marcelo, não o outro.

Suponho que tal maioria também faça parte da universalidade do Rio, não? Ou universal, na concepção do pessoal que imaginou aquela capa infeliz, exclui os vencedores?

Publicidade

Imagem do bloco
Continua após publicidade

4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

Continua após publicidade

Vejinhas Conteúdo para assinantes

Continua após publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.