O governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, decidiu manter no cargo o secretário de Segurança Pública e o de Administração Penitenciária, Antonio Ferreira Pinto e Lourival Gomes, respectivamente. Acompanho pouco a segunda pasta e com mais interesse a primeira. Ferreira Pinto exibe números robustos em sua área. São Paulo tem hoje a menor taxa de homicídios do Brasil: 9 por 100 mil habitantes; no país, é 26; no Rio, 36. Se a taxa nacional de homicídios fosse igual à do estado, em vez de 50 mil assassinatos por ano, haveria 17.100! Seriam poupadas 32.900 vidas.
Alguns bananas atribuem esse número ao tal Estatuto do Desarmamento. Restaria explicar por que ele fez efeito em São Paulo, mas não no Nordeste, por exemplo. A taxa cresceu na maioria dos estados. Na Bahia, o salto é escandaloso. “Triste Bahia! Oh quão dessemelhante/ Estás, e estou do nosso antigo estado! (…)” Não é Caetano Veloso, não! É Gregório de Matos comentando, em pleno século 17, o governo Jaques Wagner, juro!
Ferreira Pinto também é muito duro na repressão aos crimes cometidos pelas próprias forças policiais — e, ainda assim, eles acontecem. Fato é que não se tem em São Paulo uma polícia que precisa ser vigiada por um destacamento especial, como o Bope vigia a polícia regular no Rio, por exemplo. E torço para que Sérgio Cabral não sugira a legalização controlada dos crime fardado, em nome do “fim da hipocrisia”… Sigamos.
Se Alckmin acertou na Segurança Pública, acho que houve um curto-circuito desnecessário, por maus motivos, na Educação. Paulo Renato anunciou hoje que não ficaria ainda que fosse convidado — e ele não foi. Se havia a expectativa da permanência, certo é que outras pessoas foram sondadas. O que se especula é que o futuro governador gostaria de um nome que tivesse uma relação menos crispada com os professores. Se for isso mesmo, trata-se de um mau passo — na verdade, de um péssimo passo.
Como indagou Tétis, nos Lusíadas, quando o Gigante Adamastor começou a se engraçar com ela, todo grandalhão, “qual será o amor bastante de ninfa, que sustente o dum Gigante?” É a variante classicista, leitor, daquela piada do elefante e da formiguinha, hehe. Pois bem. Qual será a obra bastante de um secretário da educação que contente a Apeoesp, um braço extremista do PT, e a presidenta (!) do sindicato, a ínclita Bebel? Só o mais desbragado corporativismo, com a eliminação de qualquer programa voltado para o mérito e a qualificação dos professores, satisfaria o corporativismo da turma — que, não obstante, continuará a fazer greves.
A exacerbação do “movimento” se deu no governo Serra porque ele era um possível candidato a presidente da República, e a Apeoesp estava fazendo campanha eleitoral negativa e antecipada, razão por que foi multada pelo Tribunal Superior Eleitoral. Alckmin será candidato à Presidência? Huuummm… Por que não? Se for, Bebel radicaliza; se não for, aí nós vamos ver. A pauta da Apeoesp é conhecida: quer o fim de todos os programas que resultaram numa elevação do desempenho dos estudantes paulistas no exame do Fundeb, por exemplo.
Paulo Renato teria todas as condições técnicas para continuar — e pode ser que alguém tão competente quanto o substitua, não sei. Não é isso que me incomoda nessa história, não. O que é muito ruim é a suposição de que sua saída representa um flerte com um sindicato que deve explicações à Justiça e que promove a queima de livros em praça pública. Uma Secretaria da Educação em paz com o sindicato não é sinônimo de uma educação comprometida com os alunos. Aliás, costuma ser justamente o contrário.