Ainda não vi a lista dos votantes e faltantes para ter mais clareza de quem ficou com quem na disputa pela Presidência da Câmara. Mas até Rodrigo Maia (DEM-RJ) deve ter ser se surpreendido com o resultado. Mesmo os que apostavam na sua vitória não esperavam placar tão largo: 285 votos contra 170 para Rogério Rosso (PSD-DF), especialmente porque, no primeiro turno, ambos obtiveram, respectivamente, 120 e 106. Vale dizer: o candidato do DEM-PSDB-PPS-PSB ganhou 165 adesões, e Rosso, identificado com o Centrão, apenas 64. Esse grupo dispõe de 217 votos, ao menos na contabilidade da imprensa. Talvez seja o caso de a gente se perguntar se ele existe mesmo, com a configuração que se anuncia por aí.
Será preciso avaliar adequadamente o peso que a oposição teve nesse placar. Maia agradeceu, por exemplo, o apoio do PCdoB, que tem míseros 11 votos, e do PDT. Vamos conferir a lista mais tarde. Quem foi o grande cabo eleitoral do democrata? Ora, Eduardo Cunha! Mas este não apoiava Rosso? Sim! Por isso mesmo, Maia foi beneficiado. Ou por outra: a votação da madrugada desta quinta foi a antecipação da cassação do deputado peemedebista.
A pecha pespegada em Rosso de “candidato de Cunha” pegou, embora isso seja uma verdade tão relativa que não significa quase nada. Ainda que o ex-presidente da Câmara apoiasse o deputado do DF, este nada poderia fazer em seu benefício se eleito fosse. Mas colunistas em penca, por exemplo, insistiam que a própria renuncia de Cunha à Presidência da Câmara era só um golpe para se livrar da cassação. Ninguém explicou por que ou como isso se daria. Assim como ninguém conseguiu demonstrar como Rosso poderia ajudar o peemedebista.
Vamos chamar a coisa pelo nome: NINGUÉM MAIS TEM PACIÊNCIA PARA EDUARDO CUNHA. OS DEPUTADOS QUEREM SE LIVRAR DELE O MAIS RAPIDAMENTE POSSÍVEL. E É ISSO O QUE O PLACAR DA NOITE DESTA QUARTA TRADUZIU.
Rosso não conseguiu se livrar da pecha de “candidato de Cunha”, embora, reitero, ele nada pudesse fazer pelo ex-presidente da Câmara se eleito. Mas o fato é que deu pra perceber que há uma pronunciada ansiedade para superar esse momento.
Se Cunha tinha alguma dúvida de que será cassado em agosto, é bom refazer seus planos. Pode preparar a mala e a escova de dentes porque está com um encontro marcado com o juiz Sergio Moro na 13ª Vara Federal de Curitiba.
Lançando-se pelo bloco que fazia oposição ao PT — PSDB, DEM e PPS, acrescido do PSB —, Maia se colocou desde o primeiro momento como o nome anti-Cunha, relegando a Rosso a tarefa de deixar claro que não era o “cunhista” da turma. E isso, vamos convir, ele não fez.
Tanto Maia investiu nesse aspecto que, antes, durante e depois da votação fez gestos de aproximação com a antiga oposição. Num primeiro momento, e eu o critiquei aqui, buscou abertamente o apoio do PT e do PCdoB. E chegou a ganhar o sinal verde de Lula.
Essa aproximação de Maia com a esquerda tem o seu preço? Acho que sim e vou tratar disso em outro texto. O que precisa ficar claro neste, de maneira inequívoca, é que a eleição de Maia, por esse placar, foi a antecipação da cassação de Cunha. São necessários apenas 257 votos para mandá-lo embora da Câmara. Maia obteve 28 a mais do que isso.
Tchau, querido!