Se os cortes de cabelo de Neymar hoje dividem espaço no noticiário com os treinos da seleção brasileira e os jogos da Copa do Mundo, em 2002, seu ex-empresário, o então atacante Ronaldo, o Fenômeno, ensinou o mundo como desfocar o olhar da imprensa e da torcida. No caso do ex-atleta, há 16 anos, ele queria deixar de lado as perguntas sobre a recuperação da grave lesão em seu joelho.
O corte de Ronaldo, que deixou o hoje comentarista da TV Globo com um cabelo parecido com o do personagem Cascão, da Turma da Mônica, pegou os jornalistas da cobertura da seleção brasileira de surpresa. “‘Ficou tão ruim assim?'”, perguntou assustado o jogador após observar a reação de todos na sala de imprensa (edição 1.758, de 3 de julho de 2002).
Naquele mesmo ano, os cortes de cabelo na Copa ganharam destaque não só por causa de Ronaldo. Na edição de 12 de junho de 2002, VEJA dedicou uma página aos estilosos do Mundial, dividido na ocasião entre as sedes Japão e Coreia do Sul. Foi nessa competição que o Brasil se tornou pentacampeão mundial, e isso graças ao “Cascão” Ronaldo, que fez dois gols na final contra a Alemanha. Leia a reportagem na íntegra:
“Eles já são famosos o ano inteiro, mas nestas quatro semanas de junho as estrelas do futebol transformam-se em celebridades de dimensões planetárias. Ninguém, nesse período, incluindo o papa, Madonna e o presidente Bush, é mais fotografado e focalizado pela TV do que eles. São também garotos-propaganda requisitadíssimos. Um grande exemplo é a campanha da Nike, em que, no porão de um navio, o português Figo, Ronaldo e Roberto Carlos disputam um jogo contra o italiano Totti, o francês Henry e o japonês Nakata. O mais surpreendente é Nakata, com seu cabelo alaranjado, estar entre eles. Trata-se do único jogador japonês realmente conhecido em todo o mundo do futebol. Embora seja reserva do Parma, da Itália, está entre os craques mais bem pagos do país. Tudo isso porque ele, sozinho, ajuda a movimentar o mercado do futebol do Japão, que investiu 4 bilhões de dólares na organização da Copa.
Para merecerem tamanha exposição, os craques do Mundial não só defendem bolas difíceis, desarmam adversários, dão passes e marcam gols. Atraem também olhos e câmaras pelo visual tão chamativo quanto o dos astros da cultura pop. Em matéria de olha-eu-aí, o difícil é dizer quem mais chama a atenção dos telespectadores e da torcida nos estádios. Há um páreo duro entre o alemão Ziege, com uma faixa de cabelo estilo último dos moicanos e as cores da bandeira de seu país pintadas na parte de trás da cabeça, o nigeriano West, que exibe chuquinhas verdes em forma de chifres, e o cabelinho tecnicolor do sul-africano Zuma. No time do rabo-de-cavalo, destacam-se o veterano goleiro inglês Seaman, de 38 anos, o também camisa 1 Recber, da Turquia, e o volante francês Petit.
Não chegam a surpreender os cabeças-raspadas, como o francês Barthez, o sueco Larsson, o alemão Jancker, Ronaldo e Roberto Carlos, que já dominavam a cena na Copa de 98, nem a turma dos mauricinhos, que inclui o inglês Michael Owen, o alemão Ballack, o espanhol Raúl e o reserva brasileiro Kaká. Mas há também uma velha novidade. Obrigados pelo ex-técnico Daniel Passarella a adotar durante três anos um corte certinho, do tipo que mamãe gosta, os argentinos entraram na máquina do tempo e desfilam no Japão com cabeleiras desgrenhadas dos anos 70. Uma das poucas exceções é o cabeça-raspadíssima Verón.
Na passarela dos gramados asiáticos, a maior curiosidade gira em torno do ídolo inglês David Beckham, adepto de mudanças radicais. Já foi cabeludão, na linha do roqueiro Bon Jovi, depois raspou a zero e em seguida aderiu ao corte moicano ligeiramente punk. Na semana passada, uma das principais casas especializadas de Londres aceitava apostas, na base de 4 para 7, dos fãs que acreditam que Beckham aparecerá com pelo menos dois looks diferentes nesta Copa.”