As cenas quentes da atriz Bruna Marquezine e seu par romântico, Daniel de Oliveira, na minissérie Nada Será Como Antes, que vazaram e abalaram a web nesta semana, já entraram para a vasta galeria de ‘nudes’ da TV brasileira. É uma estratégia já antiga: esquentar a audiência com nudez e sexo. As últimas atrações da faixa das onze da Globo usaram e abusaram do expediente. Antes delas, muitas outras séries e novelas souberam cativar o público com roteiros picantes. Outras tropeçaram com cenas chulas ou tórridas demais para o horário na grade das emissoras.
Um marco do erotismo na TV é a novela Gabriela, que a Globo exibiu em 1975 na faixa das dez, com Sônia Braga no papel título – sua sorte grande, dizia VEJA naquele ano. A força do personagem ajudou a projetar a atriz e fixá-la como símbolo sexual: “o sonho do brasileiro comum”, segundo reportagem de capa de VEJA sobre a atriz, três anos depois, por ocasião do sucesso do filme A Dama do Lotação. A cena mais famosa da novela, no entanto, não é exatamente uma ‘nude’: trata-se da escalada de Gabriela atrás de uma pipa presa no telhado.
Na edição de 9 de abril de 1986, VEJA tratava da nova atração do horário nobre, Dona Beija, estrelada por uma jovem Maitê Proença, na extinta TV Manchete. Depois de interpretar a recatada Marquesa de Santos, a atriz dava vida à vigorosa Ana Jacinta de São José, vulgo Beija:
O forte, na novela da Manchete, é a trama amorosa, com fartas pitadas de erotismo. Na semana de estreia da novela, Maitê Proença apareceu com os seios nus em três cenas. Na primeira, ela se banhou em uma cachoeira, metros da câmera. Depois, Beija se untou com lama medicinal do Araxá, já mais próxima do espectador, mas de lado. Na terceira cena, a atriz se mostrou bastante, abraçando Gracindo Jr. O erotismo de Dona Beija, que não teve nada de chocante nos capítulos da semana passada, deverá aumentar ao longo da novela.
A emissora continuou ousando com a novela Pantanal. Em reportagem de 9 de maio de 1990, a nudez é tratada como um recurso para atrair espectadores, principalmente os homens. Silvio Santos, Roberto Marinho e José Bonifácio de Oliveira, o Boni, parabenizam a emissora concorrente pelo trabalho com a novela – exaltando a qualidade do trabalho de Jayme Monjardim, chamado de “o Midas da Manchete”.
“Nudez e erotismo ajudam a que o público masculino, mais resistente a novelas, se interesse por Pantanal. ‘O espectador assiste a novela, vai dormir em seguida e sonha com a Juma (personagem de Cristiana Oliveira) nua’, explica um diretor de novelas da Globo. ‘No dia seguinte, é claro, ele estará novamente sintonizado na Manchete’.”
Uma década mais tarde, a minissérie Hilda Furacão, na Globo, causava furor com a personagem de Ana Paula Arósio, então com 22 anos. A edição de VEJA publicada logo após a estreia da atração comentava a boa audiência do programa e antecipava a repercussão dos capítulos seguintes, que trariam Ana Paula nua.
Em 2000, Uga-Uga mostrava Danielle Winits de topless na faixa das 7. A audiência ia bem, mas o Ministério da Justiça não gostou.
“Pesquisas mostram que o horário das 7 é o da preferência de crianças e pré-adolescentes (para assistir a TV), que a essa hora já chegaram da escola e ainda não foram dormir. Tanto que até pouco tempo atrás a novela Chiquititas alcançava 21 pontos de audiência no horário. Agora, o ibope de Chiquititas caiu para 15 – o que sugere que muitas crianças, movidas pela curiosidade natural, preferem ver os seios de Danielle à estripulias de Pata e sua turma”, escreveu VEJA em junho de 2000.
Mais de uma vez a teledramaturgia pareceu ter ido longe demais. Em 2006, na novela das oito Páginas da Vida, o próprio autor, Manoel Carlos veio a público pedir desculpa por deixar ir ao ar o relato real de uma mulher sobre o seu primeiro orgasmo: “Acordei com as pernas suspensas, com a calcinha na mão e toda babada”. Reportagem de VEJA debateu os limites do sexo na TV aberta:
“Trinta anos atrás, a veiculação de cenas como as de Páginas da Vida poderia despertar reações moralistas. Seria vista como um atentado aos bons costumes. Hoje, a discussão é diferente. A questão-chave passou a ser a preocupação com a família, sobretudo as crianças. Psicólogos e educadores são quase unânimes em alertar para o fato de que a exposição dos jovens a temas como o sexo, a violência e as drogas deve ser acompanhada pelos pais e requer cuidados especiais dependendo da faixa etária.”
Alguns capítulos antes, a mesma novela havia exibido outra cena marcante: um striptease da personagem de Ana Paula Arósio, de frente e de costas, seguido do chamado ao personagem de Edson Celulari: “Vem mais uma vez, mais duas, mais dez, vem dormir dentro de mim”.
A faixa das onze, contudo, têm se mostrado mais adequada às histórias mais tórridas. Em 2015, Paolla Oliveira deixou a internet de queixo no chão ao aparecer de calcinha fio dental, de costas para a câmera, na minissérie Felizes para Sempre?, no papel de uma garota de programa de luxo de Brasília.
“O país está num relacionamento amoroso com Paolla. E com o bumbum dela”, brincava Euclydes Marinho, o autor da trama, na coluna Gente da edição de 4 de fevereiro de 2015 de VEJA.
No mesmo ano, a novela Verdades Secretas despiu uma série interminável de beldades: Camila Queiroz, Agatha Moreira, Reynaldo Gianecchini, Grazi Massafera e Yasmin Brunet. A trama já começava quente: o capítulo de estreia trazia uma cena de sexo entre Rodrigo Lombardi e Alessandra Ambrósio. O público feminino vibrou com o derrière do ator, como relatou VEJA, para surpresa do autor Walcyr Carrasco, que esperava maior repercussão da boa forma de Alessandra.
Não podendo rivalizar em quantidade de nudes, a novela das 11 Liberdade, Liberdade, de 2016, levou ao ar a primeira cena de sexo gay da TV aberta, protagonizada pelo sensível André e o rústico militar Tolentino, vividos por Caio Blat e Ricardo Pereira. Reportagem de VEJA observava:
“A decisão de quebrar o tabu veio embasada em pesquisas. A emissora detectou uma torcida para o casal André e Tolentino. Mas, escaldada pela rejeição à troca de um selinho entre as idosas lésbicas de Babilônia, de 2015, a rede seguiu a máxima da abertura lenta, gradual e segura. Como mostrou o beijo de Amor à Vida, o segredo é despertar simpatia pelos personagens, antes de maiores voos.”
Ah sim, ‘Liberdade, Liberdade’ também causou com a nudez da personagem de Maitê Proença, agora aos 58 anos. Soube-se depois, porém, que o nude foi feito por uma dublê de corpo.