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A democracia se arrisca

A história mostra que, quando se trata defender a democracia, apostas arriscadas não costumam ser bem sucedidas

Por Ricardo Rangel Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 1 jul 2024, 14h29 - Publicado em 1 jul 2024, 14h01

O Reunião Nacional, partido de Marine Le Pen, obteve 33% dos votos. Se a vitória se confirmar no segundo turno, domingo que vem, a França deverá ter um governo de ultradireita.

As eleições não estavam marcadas para acontecer agora, foram antecipadas por Macron, em uma aposta desnecessária e extremamente perigosa, que deixou o mundo inteiro perplexo e muito preocupado. Como agora está claro, com razão.

O debate entre Joe Biden e Donald Trump, na última quinta-feira, foi de dar arrepios. Com as desavergonhadas mentiras de costume, Trump deu apenas engulhos. Os arrepios vieram da confirmação de rumores que se acumulam há tempos: Joe Biden não tem condições intelectuais de ser um candidato minimamente viável.

Vozes antitrumpistas se multiplicaram pedindo a substituição de Biden (não há sinais de que tais pedidos serão atendidos, pelo contrário). Há duas perguntas que não calam: 1) como foi possível que os democratas não tenham percebido antes o tamanho do risco que Biden viria a representar? e 2) ainda há tempo de evitar o desastre que será uma nova presidência Trump?

No Brasil, onde Bolsonaro passou quatro anos lutando contra a democracia e chegou a tentar um golpe de Estado, uma enorme quantidade de políticos que não podem ser chamados de extrema-direita insiste em defendê-lo e a ele se associar.

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Lula e o PT, de sua parte, seguem hostilizando qualquer um que não seja petista e insistindo em falas e medidas insensatas, alimentando a extrema direita.

A falta de cuidado que políticos tradicionais vêm tendo com a defesa da democracia é preocupante e lembra eventos acontecidos em outros tempos. Em 1924, o rei Vittorio Emmanuele III recusou-se a permitir que a República se defendesse de Mussolini e o nomeou primeiro-ministro, abrindo caminho para a ditadura fascista.

Em 1933, Hitler não deu um golpe de Estado: a ideia de nomeá-lo primeiro-ministro foi de um político tradicional, Franz Von Pappen; o convite foi formalizado pelo presidente eleito, Paul Hindenburg; e a lei que lhe deu os poderes por meio dos quais se tornou ditador foi aprovada pelo Parlamento.

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Em 1935, o estado de emergência que daria a Vargas os poderes necessários para instaurar a ditadura pouco depois foi aprovado pelo Congresso. Em 1964, o golpe militar que jogaria o Brasil em uma ditadura de 21 anos foi apoiado por muitos políticos tradicionais, inclusive alguns que pretendiam ser candidatos a presidente no ano seguinte.

A história não deixa dúvida: a ideia de que é possível manter sob controle políticos que querem derrubar a democracia não passa de uma alucinação.

É impressionante que, a esta altura, ainda haja tanta gente brincando com isso.

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(Por Ricardo Rangel em 01/07/2024)

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