Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Ricardo Rangel

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Continua após publicidade

A marcha da insensatez

O que leva governos a adotar políticas que acabam por derrotá-los

Por Ricardo Rangel Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 jun 2024, 16h50 - Publicado em 17 Maio 2024, 06h00

A humanidade está diante dos dois maiores desafios que já enfrentou. Um, herança do século XIX, é o modelo de exploração desenfreada de recursos minerais, que joga na atmosfera bilhões de toneladas de CO2 (e outros gases) por ano. Todos sabemos a gravidade do problema: segundo a Quaest, 99% dos brasileiros associam a tragédia no Rio Grande do Sul à mudança climática.

Apesar de sabermos que precisamos mudar nossa conduta, seguimos — como o fumante que admite a conexão entre fumo e câncer, mas continua fumando — vivendo da mesma maneira. “Dai-nos a sustentabilidade e a continência, mas não agora”, poderia dizer Santo Agostinho.

Lula defende o fim do combustível fóssil, mas investe em exploração e refino de óleo. Não há campanha de conscientização para estimular álcool combustível, energia solar nas residências, economia de água e de eletricidade, separação de lixo etc. Fala em desmatamento zero, mas não há projeto de desenvolvimento sustentável para a Amazônia. O Congresso insiste em aprovar projetos contra o meio ambiente e até hoje não regulamentou o mercado de crédito de carbono. Não existem metas, plano ou cronograma.

O problema é planetário, reconheça-se, mas o Brasil tem características que deveriam nos tornar um exemplo a seguir. No entanto…

Continua após a publicidade

“Há enorme especulação sobre se a revolução tecnológica nos dará o paraíso ou a destruição”

O outro desafio vem de um futuro que já começou. Esta semana, a OpenAI lançou a nova versão do ChatGPT, a ferramenta de inteligência artificial mais avançada do mercado. O GPT-4o lê, escreve, ouve, fala, enxerga, reconhece objetos, bate papo (permite ser interrompido), tem senso de humor, demonstra emoção e sabe até cantar.

Há enorme especulação sobre se o admirável mundo novo da revolução tecnológica nos dará o paraíso ou a destruição. Ou uma coisa e depois a outra. O que é certo é que a mudança será brutal e muito rápida. Certas indústrias, como a da música ou a imprensa, já viraram pelo avesso, e muitas outras virarão. Estudo recente do FMI indica que 40% dos empregos do mundo serão afetados.

Continua após a publicidade

A humanidade viu um filme parecido no século XIX, quando um mundo rural e agrário se tornou urbano e industrial de repente. Comparada à revolução tecnológica de hoje, a Revolução Industrial aconteceu em câmera lenta, dando tempo para que as pessoas se adaptassem. Hoje, assalariados perdem o emprego e recorrem ao Uber (onde ganham uma fração do que ganhavam antes) como tábua de salvação. Em breve os carros serão automáticos, dirigidos por inteligência artificial, e não se sabe se haverá tábua de salvação.

Quando surge algo novo, como o Uber, o governo tenta enfiar os motoristas de aplicativo na camisa de força da CLT, paradigma superado há tempos. Enquanto o GPT-4o lê e escreve em cinquenta idiomas e conhece matemática avançada, o Brasil segue na rabeira do Pisa, ensinando um português ruim e uma matemática pior.

Há muito a fazer para superar os desafios atuais. Um bom primeiro passo é (re)ler A Marcha da Insensatez, em que a historiadora Barbara Tuchman estuda o que leva governos a promover políticas que acabam por destruí-los (e aos cidadãos que governam).

Continua após a publicidade

Publicado em VEJA de 17 de maio de 2024, edição nº 2893

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.