Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

Ricardo Rangel

Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Continua após publicidade

Daniel Silveira e a tolerância

Em um país normal, um deputado não atacaria a democracia

Por Ricardo Rangel Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 13h33 - Publicado em 19 fev 2021, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • “A tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância. Se estendermos a tolerância ilimitada mesmo aos intolerantes, e se não estivermos preparados para defender a sociedade tolerante do assalto da intolerância, então os tolerantes serão destruídos e a tolerância com eles.” (Karl Popper, 1945)

    Se houvesse no Brasil de hoje o que se chama normalidade democrática, o Supremo Tribunal Federal não teria prendido o deputado Daniel Silveira. Em um país normal, um deputado não atacaria a democracia. E se, por um lapso, tal barbaridade acontecesse, a própria Câmara cassaria o mandato do deputado golpista. Mas, no Brasil de hoje, o próprio presidente ataca a democracia e o Congresso sempre livra a cara de parlamentares criminosos.

    Em seu vídeo, Silveira não se limita a ameaçar as pessoas físicas dos ministros do STF: ele ameaça e ataca o Supremo como instituição, incita extremistas a dar “uma surra” nos ministros, defende claramente a ditadura e o golpe militar, revela a intenção de minar a democracia. O deputado mente que suas ameaças não são ameaças (a opinião do criminoso sobre seu próprio crime é irrelevante) para preparar o argumento dos bolsonaristas de que foi tudo mero exercício da liberdade de expressão. Conversa fiada.

    É irônico ver um defensor da ditadura e do AI-5, que afirma que a Constituição é “uma porcaria” criada para perpetuar bandidos no poder, buscar nessa mesma Constituição a justificação de sua impunidade. O argumento, no entanto, não colou, e Alexandre de Moraes, corretamente, prendeu o deputado e levou o assunto a plenário, referendando sua decisão por 11 a zero.

    “As intenções golpistas eram claras, e é um erro considerar que o ato tem abrigo na Constituição”

    Continua após a publicidade

    Preso, Silveira desacatou a policial plantonista, reiterou ameaças, avisou que vai “matar ou morrer” e fez pouco da prisão, gabando-se de já ter sido preso “mais de noventa vezes na PM do Rio”. O que leva alguém preso noventa vezes na Polícia Militar a se considerar um defensor da “lei e da ordem” ou a defender ditadura militar (se, nos anos 70, dissesse de um general o que disse dos ministros, seria provavelmente torturado e até morto) é um mistério. Mas que ninguém espere coerência de trogloditas.

    Há quem ache que a prisão foi excesso de rigor, ou mesmo que não houve crime. A verborragia de Silveira foi feita sob medida para ajudar na interpretação (excessivamente garantista) de que não houve ameaça ou ataque ao Supremo. Mas a tese é um equívoco, as intenções golpistas de Silveira eram claras, e é um erro considerar que o ato do deputado tem abrigo na Constituição. Não tem.

    O Brasil vive hoje o que o filósofo Karl Popper chamou de “Paradoxo da Tolerância”: a democracia não pode ser excessivamente tolerante com quem quer destruí-la. Não se pode tolerar a intolerância de extremistas como Daniel Silveira e seu chefe, Jair Bolsonaro, que estão o tempo todo tentando criar um impasse institucional para precipitar uma interferência do Exército que permita a Bolsonaro fechar o Supremo e o Congresso.

    Continua após a publicidade

    O ato de Daniel Silveira não é casual nem pontual: ele faz parte de um esforço deliberado e planejado. Não será o último. É bom levar a sério.

    Publicado em VEJA de 24 de fevereiro de 2021, edição nº 2726

    Publicidade

    Publicidade
    Imagem do bloco

    4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

    Vejinhas Conteúdo para assinantes

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.