Governo Lula assombrado pelo fantasma da corrupção
Abril é o mês mais cruel: é tanto desgaste, que a oposição está até com dificuldade de agir

O escândalo dos descontos no INSS explodiu apenas duas semanas depois de Lula — enfim — demitir seu ministro Juscelino Filho, denunciado por corrupção y otras cositas más.
É verdade que não foi o governo Lula quem inventou a fraude no INSS, e ele tem o mérito de tê-la revelado. Também é verdade que Lula demitiu o presidente do INSS prontamente. Mas isso está longe de bastar para afastar o desgaste.
Em 2022, o total de descontos, que vinha se se mantendo mais ou menos uniforme desde 2019, aumentou 85%; em 2023, e mais do que dobrou. Tudo somando, o volume quase quadruplicou nos anos Lula/3. O número de reclamações decuplicou nesse período.
Além disso, o irmão de Lula, José Ferreira da Silva, o Frei Chico, é diretor vice-presidente de uma das associações mais beneficiadas no esquema: o Sindnapi. (O Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos é uma dessas fascinantes jabuticabas brasileiras: um sindicato que congrega a categoria profissional das pessoas que não trabalham.)
Ou seja, não dá pra dizer que o governo Lula não tem nada com isso.
Lula demitiu o presidente do INSS, mas nada faz em relação a seu chefe, o ministro da Previdência, Carlos Lupi, velho conhecido de quem acompanha o noticiário político e policial.
Ministro de Dilma, Lupi caiu por envolvimento em denúncias de corrupção. Mesmo caído, indicou o sucessor… que caiu cinco meses depois… por denúncias de corrupção. (Sem falar que Lupi é incompetente: Lula prometeu reduzir as filas do INSS, mas elas aumentaram.)
A nomeação de Lupi é o reverso da profecia de Itararé: de onde mais se espera: daí mesmo é que vem tudo. Se é difícil entender por que Lula nomeou Lupi, mais difícil é entender o que está esperando para demiti-lo. O tempo não trará alguma boa notícia que permita que Lupi se mantenha no cargo. Pelo contrário.
Vale recapitular:
Em 9 de abril, Juscelino Filho, ministro de Lula, caiu denunciado por corrupção.
Em 15 de abril, Lula deu asilo a Nadine Heredia, condenada no Peru por ter recebido dinheiro desviado pelo petrolão, e mandou um avião da FAB buscá-la no Peru.
Em 22 de abril, o governo foi esnobado por um deputado do baixo clero, anunciado como substituto de Juscelino, mas que desistiu de ser ministro.
Em 23 de abril, explodiu o escândalo do INSS.
Em 25 de abril, Fernando Collor, no que deve ter sido o canto do cisne da Lava-Jato, foi preso por corrupção… no petrolão.
É desgaste demais para um mês só (T. S. Eliot tinha razão: abril é o mês mais cruel).
É tanta oportunidade para atacar o governo, que a oposição está até com dificuldade sobre como proceder.
(Por Ricardo Rangel em 28/04/2025)