Lula decidiu nomear Pietro Mendes para o comando da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
É irregular. Uma agência reguladora deve ser independente de qualquer um que atue no mercado que ela regula, mas Mendes é secretário de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia do governo Lula. O conflito de interesses é óbvio e incontornável.
Mendes já vive um conflito de interesses hoje: além de secretário, ele é presidente do conselho de administração da Petrobras — cargo que deve deixar, pois seria mesmo escandaloso demais ele estar cuidando dos interesses do governo no setor de óleo e gás, produzindo óleo e gás na Petrobras e ainda estar na ANP regulando o que a Petrobras pode ou não fazer.
Mas ele estar no governo e na agência, não é um escândalo (ainda que menor)? Claro que é. E não é proibido? Claro que é. Mas dane-se. Funciona assim: o governo nomeia e depois atua politicamente no Senado (para aprovar) e no Supremo (para ficar por isso mesmo ou para ir empurrando com a barriga, o que dá na mesma).
E como Mendes vai navegar esse conflito? Como tem navegado até agora. Mal. Na Petrobras, por exemplo, ele estava no centro da controvérsia que levou à queda de Jean Paul Prates, e por sua atuação chegou a ser afastado do cargo pela Justiça Federal (o governo recorreu, e, espantosamente, reverteu).
Com essa nomeação, o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, que já era excessivamente poderoso, se torna uma espécie de superministro: manda em seu ministério e tem enorme influência não só na maior empresa do setor, como na maneira como o setor é regulado.
Governo se metendo na gestão de agências reguladoras e de empresas estatais — para fazer o que é bom para o governo e não necessariamente o que é bom para o consumidor ou para as empresas — é filme que a gente já viu.
Viu no petrolão, por exemplo.
Não acaba bem.
(Por Ricardo Rangel em 18/10/2024)