O dólar encostou em 5,27 nesta terça-feira: alta de 1,64% em um só dia. A moeda está no patamar mais alto em um ano. Faz uma semana que o dólar só sobe e a Bolsa só cai.
Não surpreende.
Existem as circunstâncias externas, claro, mas sobre essas não há o que a fazer. O problema é como as circunstâncias internas agravam o problema. E elas agravam o muito.
Lula não demonstra amor pela disciplina fiscal. Xinga o mercado e tem o hábito de reclamar dos juros, muito altos, e da meta fiscal, muito rigorosa. Quer interferir na Petrobras para subsidiar o preço do combustível e perseguir políticas economicamente insensatas. Quer encontrar um jeito de reduzir o preço da eletricidade. Tudo meio que no peito.
Se Lula já não é propriamente um fiscalista, o Congresso, muito menos. Não é fácil convencer os parlamentares a gastar menos na base do “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”. Especialmente quando se está em pé de guerra com o presidente da Câmara, Arthur Lira. O resultado é que volta e meia o Congresso inventa uma bomba fiscal.
O governo vem discutindo a redução da meta fiscal de 2025 desde a semana passada. Desde então, os mercados só caem. Esta semana, o que era discussão virou fato. E o dólar chegou aonde chegou.
Lula e a esquerda gostam de acreditar que o mercado age assim por pirraça, numa espécie de queda de braço para obrigar o governo a fazer o que ele quer.
O mercado não é tão racional quanto Adam Smith imaginava, mas está longe de ser o adolescente imaturo que Lula supõe. Quando as condições econômicas pioram, os agentes econômicos assumem posições econômicas mais conservadoras. Vendem real, compram dólar; vendem ações, compram títulos do tesouro americano. E a economia piora.
É simples. E bem mais doloroso do que seriam meros chiliques.
É curioso que Lula, que se considera antípoda de Bolsonaro, seja igual a ele no que se refere a tomar decisões econômicas voluntariosas, insensatas e nocivas. Curioso e irônico.
(Por Ricardo Rangel em 17/04/2024)