A urna eletrônica não é perfeita: tudo pode ser aprimorado, e o modelo atual não é exceção. Quem entende do assunto cobra a a publicação do código-fonte, a revelação de quais são os algoritmos de criptografia utilizados, a disponibilização na Internet de uma simulação de urna, para que a comunidade de TI possa procurar falhas, por exemplo.
O fato de a urna eletrônica não ser perfeita não é motivo para se acreditar que seja uma solução ruim ou que haja fraude. Nem muito menos que não seja uma solução muito melhor do que o que havia antes.
A urna está em uso há 21 anos, e nunca houve caso concreto de fraude. Na única vez em que houve pedido de auditoria em eleição para presidente (em 2014), Aécio Neves, que perdeu para Dilma, e seu partido, o PSDB, se deram por satisfeitos e afirmam que não há motivo para acreditar em fraude.
Desde que a urna eletrônica foi implantada, Jair Bolsonaro foi eleito uma dezenas de vezes, inclusive em 2014, quando foi o deputado mais votado de seu estado. Seus três filhos, em conjunto, foram eleitos outras tantas vezes.
Qualquer um que tenha mais de 40 anos sabe que, antes da urna eletrônica, as fraudes eram recorrentes, e a tentativa de surrupiar a eleição de Leonel Brizola em 1982 é histórica. No Brasil, a fraude eleitoral é uma tradição tão antiga quanto a dos golpes militares, remonta a mais de cem anos (deixou de ser um problema na mesma época em que os militares pararam de interferir em assuntos civis, e é emblemático que os dois assuntos ressurjam ao mesmo tempo).
Há muito a melhorar, mas não há motivo para crer que haja fraude hoje, nem há razão para fazer mudanças de afogadilho, nem muito menos supor que imprimir voto seja um bom caminho. Voto impresso implica um caminhão (literalmente) de problemas logísticos. Custo altíssimo. Milhares de impressoras. Que, num país tropical, vão dar defeito. Risco de quebra de sigilo. Transporte de milhões de papeluchos. Recontagem de votos (no caso de discrepância, vale qual, o de papel? por quê?)
Dentro da suposição um tanto paranoica de que o próprio TSE fraudaria a eleição eletrônica, como o sistema em papel aumentaria a confiabilidade? Afinal, caberia ao próprio TSE transportar e armazenar a papelada, decidir se e quando seria autorizada a recontagem de votos, recontar, decidir qual voto vale, o eletrônico ou o de papel.
Então, se o sistema funciona bem, não há motivo para crer em fraude, fazer mudanças na correria é perigoso, o modelo impresso é ruim, temos crises na saúde e na economia, por que o país está parado discutindo voto impresso?
Porque tudo indica que Bolsonaro será derrotado na eleição de 2022, e ele terá melhores chances de melar a eleição se puder exigir recontagem de votos, um processo naturalmente longo, tumultuado e polêmico.