Por que a queda na popularidade de Lula cria um problema para a direita
O governo está batendo cabeça... Mas a oposição também está

Que queda foi essa, camaradas.
Segundo o Datafolha, a aprovação ao governo Lula despencou de 35% para 24% em apenas dois meses. A reprovação subiu de 34% para 41% — e a queda é mais significativa no Nordeste, reduto eleitoral de Lula. Mais: o Ipec indica a parcela que acha que Lula não deve se candidatar em 2026, que já era de 58% em setembro, subiu para 62%.
O problema não é a comunicação, como Lula gosta de imaginar. O problema é que há pouco de bom a comunicar. O desemprego está baixo, mas a inflação corrói o salário de quem está empregado. O país está crescendo, mas, com o juro na lua, ninguém consegue comprar a prazo. Todo mundo está com medo de andar na rua, mas segurança é um assunto do qual o governo foge como o diabo da cruz.
Gleisi Hoffman e outros tentam derrubar Fernando Haddad. Gleisi e os radicais querem que o comando do partido passe para José Guimarães, contra a vontade de Lula e dos moderados, que preferem que o próximo presidente seja Edinho Silva.
Dirigentes do PT reclamam que Lula é blindado por auxiliares próximos, enquanto os auxiliares próximos reclamam que Janja tutela o presidente. Lula assiste à balbúrdia sem nada fazer.
Não existe agenda positiva que possa ser construída no meio desse bate-cabeça. O inferno astral de Lula, curiosamente, gera bateção de cabeça também na oposição. Lula, mais do que Bolsonaro, é o grande aglutinador da direita: se ele se enfraquece, a aglutinação diminui. A direita se divide.
Grandes manifestações contra Lula estão marcadas para o dia 16 de março, mas elas não querem a mesma coisa. Gente como Nikolas Ferreira e Carla Zambelli convocam para um ato em defesa do impeachment (com base em que, ninguém sabe) do presidente.
Enquanto isso, o próprio Bolsonaro aposta que Lula definhará até a eleição e convoca para um evento defendendo apenas “Fora Lula 2026” — deixando claro que não quer impeachment. E ainda faz um alerta (“Informe-se sobre a pauta”) para esvaziar as manifestações que pedem impeachment.
O que Bolsonaro quer mesmo é anistia para os arruaceiros do 8 de Janeiro, forma de viabilizar sua própria candidatura em 2026. Mas essa reivindicação só interessa a quem é muito próximo do ex-presidente. Para outros presidenciáveis de direita, como Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado, Ratinho Jr., Pablo Marçal ou Gusttavo Lima, Bolsonaro interessa como cabo eleitoral — não como candidato.
É irônico que o enfraquecimento de Lula, de certa forma, enfraqueça também seus adversários.
(Por Ricardo Rangel em 17/02/2025)