Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Ricardo Rangel

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Pulsão de morte

Bolsonaro não emite sequer uma frase de solidariedade ou empatia

Por Ricardo Rangel Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 13h23 - Publicado em 5 mar 2021, 06h00

O Brasil bate recorde de mortes dia após dia, e Jair Bolsonaro segue em sua rotina: desdenha dos riscos, diz que a pandemia está “no finzinho”, ataca o uso de máscara, faz propaganda de medicamento inútil e perigoso, defende tratamento precoce inexistente, ridiculariza a vacina, tenta impedir o isolamento, provoca aglomerações.

Bolsonaro teve a chance de negociar com quatro laboratórios e comprar vacinas antecipadamente, mas só tratou com um, recusou-se a comprar vacina antes de aprovada pela Anvisa (só agora mudou de atitude), tentou recusar a CoronaVac. Antes exemplo em imunização, o Brasil vacinou menos de 4% da população, e só Deus sabe quando vacinará o restante.

Bolsonaro deveria ter comprado seringas e agulhas em agosto, mas desconsiderou os alertas que recebeu; depois ofereceu preços abaixo do mercado e provocou o fracasso do leilão; por fim, proibiu a compra: ou seja, mesmo se houvesse vacina à vontade, não seria possível vacinar. No auge da crise, cortou 75% dos leitos de UTI e, em momento de catástrofe para a saúde e para a educação, quer tirar recursos desses setores. Conseguiu a façanha de fazer absolutamente tudo errado, mas se gaba: “Não errei nenhuma”.

Segundo a psicanálise, somos todos governados por uma pulsão sexual (Eros), ou de vida, que nos empurra para a vida, o sexo, a criação, e por uma pulsão de morte (Thanatos), que nos empurra para a morte, o desprezo, a destruição. Na maioria das pessoas, predomina a pulsão de vida: estamos mais interessados em ser felizes do que em infernizar os outros.

“Um dia teremos de explicar por que permitimos a devastação que está em curso”

Continua após a publicidade

Em Bolsonaro, a pulsão de vida parece inexistente (ele é incapaz de emitir sequer um comentário de solidariedade ou empatia), só se vê pulsão de morte. Bolsonaro defende ditadores, legitima a tortura, diz que a ditadura “deveria ter matado 30 000”, afirmou que FHC deveria ser fuzilado, propôs metralhar favela, acha que bandido bom é bandido morto. Foi condenado pelo Conselho de Justificação do Exército por planejar explodir bombas em quartéis (absolvido no Superior Tribunal Militar, passou para a reserva seis meses depois).

Quer dar à polícia licença para matar, armar a população, acabar com multas nas estradas, eliminar cadeirinha de criança. Seu governo destrói a saúde, a educação, o meio ambiente, as relações externas, os direitos humanos, a cultura. É agressivo com quem o contraria e preconceituoso com índios, mulheres, negros e homossexuais (com estes parece ter uma obsessão particular). Traiu apoiadores de primeira hora, escorraçou aliados, rompeu com o próprio partido. Sua segunda mulher o acusou de ameaçá-la de morte.

Bolsonaro não é o primeiro nem o pior entre os muitos líderes fascinados pela morte que a história registra, mas ele é responsabilidade nossa, afeta a nós. Circunstâncias específicas permitem que líderes obcecados pela morte açulem a pulsão de morte de seus compatriotas e aceitem o inaceitável. Após a devastação, a população invariavelmente se pergunta, aturdida, como pôde deixar que ela ocorresse.

Continua após a publicidade

Quando a tempestade passar, e ela vai passar, teremos de explicar a nós mesmos e a nossos filhos como e por que permitimos a devastação que está em curso (os cúmplices terão de se explicar também à Justiça).

Publicado em VEJA de 10 de março de 2021, edição nº 2728

Publicidade

Imagem do bloco
Continua após publicidade

4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

Continua após publicidade

Vejinhas Conteúdo para assinantes

Continua após publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.