A catástrofe no Rio Grande do Sul matou, até agora, 90 pessoas — número que ainda deve crescer significativamente, já que 132 estão desaparecidas e a chuva deve continuar.
Há algumas coisas que não mudam nas catástrofes climáticas brasileiras: 1) morre muita gente, 2) descobre-se que as autoridades, da última catástrofe para cá, não deram ao assunto a prioridade devida, 3) as ditas autoridades dizem que “não é hora de procurar culpados”, 4) a emergência e o populismo fiscal levam a gastos descontrolados, que, por pressa, incompetência ou corrupção, não chegam ao destino desejado. As três primeiras já estão aí, a última está a caminho.
A catástrofe gaúcha, no entanto, tem dois elementos novos. Um é o alcance no espaço: a catástrofe se abateu sobre todo o estado: dos 497 municípios no estado, 385 foram afetados. Mais de 150 mil pessoas estão desalojadas e cerca de 50 mil, desabrigadas. O outro elemento é o alcance no tempo: a chuva começou há mais de 10 dias e não tem data para parar. O prejuízo em vidas e em patrimônio é incalculável.
A própria capital está debaixo d’água, e ficará pelo menos três semanas sem aeroporto; 42 rodovias estão com algum tipo de bloqueio. Diante dessas condições, torna-se extremamente difícil para quem quer que seja — prefeitos, governador, presidente da República — tomar as providências necessárias para resgatar as vítimas ou reparar equipamentos públicos danificados.
O que está ocorrendo no Rio Grande é uma espécie de trailer do que vem por aí: a mudança climática chegou para ficar. Ninguém sabe mais o que pode ser considerado “normal”.
E o que estamos fazendo a respeito?
O Congresso prossegue no negacionismo e na marcha da insensatez, aprovando projetos contra o meio ambiente. A pauta-bomba climática desta semana é a redução da reserva legal da Amazônia (ou seja, a expansão do desmatamento), a ser votada na CCJ do Senado. Já a regulamentação do mercado de crédito de carbono segue a passo de cágado.
Lula, por seu lado, prossegue num discurso contraditório: defende o fim do combustível fóssil, mas investe em refino e quer expandir a fronteira petrolífera na Amazônia. E continua brigando com todo mundo, especialmente com o bolsonarismo, o que torna impossível combater o negacionismo e criar um acordo amplo sobre um assunto que interessa a todo mundo.
Interessa acima de tudo ao cidadão comum, que é quem se afoga porque as autoridades não conseguem chegar a um acordo sobre o que precisa ser feito.
(Por Ricardo Rangel em 07/05/2024)