Só Deus nos salva do apagão
A maneira pela qual Bolsonaro e o ministro Bento vêm tratando a crise hídrica é exemplar. Do que não se deve fazer.
Bolsonaro baixou decreto determinando redução de consumo de energia na administração direta, nas autarquias e fundações.
Incluiu estatais? Não.
Estabeleceu prêmios para quem reduzir? Não.
Estabeleceu sanções para quem não reduzir? Não.
Informou a sociedade a respeito da real gravidade da situação? Não.
Encomendou campanha publicitária para conscientizar cidadãos e administradores de empresas? Não.
Pediu união e esforço conjunto? Não (nem poderia, já que sua especialidade é a cisão).
Aconselhou-se com quem entende do assunto (o nome que vem à mente, claro, é o do ex-presidente da Petrobras, Pedro Parente, que foi quem cuidou da crise na gestão FHC)? Não.
O que, de fato, decretou Bolsonaro?
Fez um amontoado de recomendações vagas e determinou a criação de comissões para a conservação de energia — se Bolsonaro e seus asseclas tivessem um mínimo de cultura política, conheceriam o célebre aforisma de JK: “se você quer enterrar um assunto, nomeie uma comissão”.
Resta a pergunta chave: quem é o responsável por convencer a sociedade brasileira a reduzir o consumo de energia? Resposta: ninguém.
Como autoritários que são, Bolsonaro e seu assecla, o ministro-almirante das Minas e Energia Bento Albuquerque, acreditam que o povo não é de confiança, é melhor mantê-lo (com perdão pelo trocadilho) no escuro. E que basta baixar um decreto que todo mundo vai obedecer.
As águas de março vão chegar antes de as tais comissões entrarem em funcionamento.
Do jeito que vai, só Deus nos salva do apagão.