Charge de ‘reação gaúcha’ contra Lula viraliza 12 anos depois
Imagem, que viralizou após agressões à caravana do ex-presidente no Rio Grande do Sul, é de autoria de artista até então pouco conhecido pela vasta obra
A onda de agressões contra a caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Sul “tirou da gaveta” – e do contexto original – uma ilustração feita doze anos atrás. No estilo de uma charge, o desenho mostra um gaúcho segurando um facão e um rebenque, tipo de chicote usado no campo, em direção a Lula. A imagem viralizou com milhares de compartilhamentos no Facebook e no Whatsapp. Na figura, o petista foge espalhando cédulas de dinheiro pelo ar. Ratos acompanham Lula, que é perseguido também pelo cusco, o cachorro, do gaudério.
A charge ganhou fama especialmente depois que ruralistas e empresários protestaram contra o ex-presidente em Bagé, usando tratores e cavalos. A imagem também circulou quando a entrada da caravana de Lula em Passo Fundo foi impedida por manifestantes – um homem chegou a ser preso e outro fugiu da polícia. A violência culminou em um atentado com tiros contra um dos ônibus, no interior do Paraná.
A ilustração, porém, não vem acompanhada do crédito do autor. Pouco conhecido por suas pinturas, Roberto Fonseca possui centenas de quadros em óleo sobre tela e nanquim. Morto em 2015, aos 76 anos, em Brasília, Roberto Fonseca nasceu em Porto Alegre, onde aprendeu a pintar de forma autodidata. A família do artista não sabe como a imagem de 2006, feita à época do escândalo do Mensalão, foi parar nas redes sociais. Naquele ano, o desenhista estava indignado com o momento político. Possivelmente, assim como agora, Lula tenha visitado o Rio Grande do Sul, porém como candidato à reeleição. Ele venceu aquele pleito com com 60,83% dos votos contra Geraldo Alckmin (PSDB).
“Foi muito curioso quando a gente começou a ver o desenho na internet. Foi uma coisa impressionante. Por mais que eu trabalhe na área de tecnologia da informação, nunca tinha tido essa experiência de ver algo viralizar dessa forma”, contou a VEJA o empresário Flávio Raupp Fonseca, de 56 anos, filho de Roberto.
A maior parte das pinturas de Fonseca retrata o homem do pampa junto à natureza. Uma delas ilustrou a capa de um livro de autoria do pintor, militar aposentado, sobre a história do Rio Grande do Sul para jovens. A pintura é a primeira de uma série que ilustra os versos do tradicional poema Antônio Chimango, escrito por Ramiro Barcellos em 1915 sob o pseudônimo de Amaro Juvenal.
O artista nunca vendeu um quadro ou fez uma exposição de suas obras. “Ele era um pintor que pintava para dar aos amigos. Não pegava no pincel para vender aquilo. Ele desenhava e dava muita coisa. Eu lembro desse desenho [de Lula]. Ele me mostrou, achou engraçado. Depois que começou a circular pela internet, fui procurar os originais, mas não encontrei porque ele deve ter dado para alguém”, contou o filho à reportagem.
Justamente por “distribuir” as obras, a família tem dificuldade em fazer um levantamento preciso do que Fonseca pintou ao longo da vida. Para agregar a produção, um museu virtual está sendo planejado. Nele, amigos e conhecidos que possuem obras do pintor podem enviar uma reprodução digital para a coleção.