Com inadimplência de 46,4% e um rombo de 32 bilhões de reais em 2016, segundo o Ministério da Educação (MEC), o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) tem gerado insegurança entre os estudantes, muitos deles endividados, como mostrou reportagem de VEJA. Além disso, mudanças no programa federal, como redução no valor máximo financiado, dificultam a adesão dos estudantes de cursos caros como medicina, por exemplo.
Neste mês, uma comissão do Congresso aprovou a Medida Provisória (MP) MP 785/17 com as mudanças do chamado “Novo” Fies. O ministro da Educação, Mendonça Filho (DEM), chegou a dizer que se o programa não mudasse, poderia ser extinto. Entre as mudanças mais polêmicas está a de cobrança dos alunos beneficiados com débito diretamente da folha de pagamento – quando empregados.
Nesse contexto, estudantes universitários estão buscando alternativas para crédito educativo e as instituições de ensino registram aumento na busca nessa modalidade. Um destes alunos é Alan do Nascimento Padilha, de 24 anos, morador de Torres, no litoral norte gaúcho. Ele estuda Análise de Sistemas na Ulbra (Universidade Luterana do Brasil) no turno da noite. De dia, ele trabalha no setor de construção civil para pagar as contas da casa. A mensalidade integral do seu curso custaria 800 reais, de acordo com o estudante. Com o crédito educativo ele paga a metade do valor e pagará o restante depois de formado com juros baixos. “Eu até tentei pelo Fies, mas não fui aprovado por causa das regras”, contou Padilha a VEJA. O estudante é o primeiro da família a ingressar em uma universidade e planeja trabalhar na área depois de formado.
O crédito de Padilha é operado pela Fundacred, fundação de crédito educativo sem fins lucrativos com sede no Rio Grande do Sul, que cresceu 60% nos últimos três anos, de acordo com o Nivio Delgado, diretor-superintendente. No primeiro semestre deste ano, a Fundacred atendeu 3 mil novos estudantes, foram 15 mil estudantes nos últimos três anos. Se no Fies a inadimplência é de 46,5%, a Fundacred tem apenas 4,6% de inadimplentes. Boa parte dos novos estudantes atendidos pela fundação deles buscou uma taxa de crédito mais baixa do que a ofertadas por instituições financeiras, com média de 2,4% a.m. A fundação gaúcha trabalha com uma taxa de crédito de 0,35% a.m (ou 4,2% ao ano – a taxa atual do Fies é de 6,5%).
“Nosso empenho em fazer que o estudante restitua o valor é muito profissional. É expressiva a diferença entre nós e o Fies. A gente se preocupa em explicar ao estudante, desde o primeiro momento, a responsabilidade porque quando ele restitui, outro aluno pode se beneficiar como ele se beneficiou”, explica Delgado.
A Fundacred é pioneira no segmento, atuando desde 1972, e com mais de cem universidades conveniadas. Sem fins lucrativos, funciona como uma espécie de “economia colaborativa” em que o aluno que se forma e restitui o valor que deixou de pagar e assim viabiliza o ingresso de mais um aluno no sistema, explica Delgado.
Questionado por VEJA a respeito dos créditos alternativos ao Fies, o MEC respondeu por meio de nota que “ao MEC, cabe falar sobre aquilo que é de sua competência, ou seja, o Fies.” e que “não tem dados ou pode tratar de assuntos relacionados a créditos educacionais que não sejam o Fies”.
Outro estudante que estuda graças ao Fundacred é Albert Ulrich Schaan, de 25 anos, morador de Porto Alegre. Ele estuda Administração na PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul). “A mensalidade aumenta a cada ano e agora custa 1.800 reais mais ou menos”, contou Schaan à reportagem.
A PUCRS tem investido nos créditos educativos próprios como uma opção ao Fies. Procurada por VEJA, a universidade informou que atualmente 40% dos estudantes possuem algum crédito ou bolsa. O número de estudantes com crédito educativo próprio da PUCRS aumentou 41% entre 2014 e 2017. As modalidades de crédito exclusivas da PUCRS são Proed (próprio) e Credpuc (administrado pela Fundacred).