O curador da mostra “Queermuseu”, Gaudêncio Fidelis, relata ter recebido propostas vindas de outros estados para que recebam a exposição encerrada pelo Santander Cultural após protestos no último domingo. Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo são as cidades onde poder público ou entidades culturais demonstraram interessem em levar a exposição sobre diversidade e temática LGBT.
“Essa exposição tem importância artística e cultural extremamente valiosa. Vários secretários de Cultura têm me ligado. Pessoas ligadas a instituições de várias partes do país estão considerando a possibilidade e mostrando interesse da exposição sair de Porto Alegre e ir para outro lugar. É claro que há uma complexidade nisso, é uma exposição de logística muito complexa”, disse Fidelis a imprensa durante o protesto contra o fechamento da exposição na tarde desta terça, na capital gaúcha.
Lygia Clark
Durante o protesto contra o fechamento da exposição, obras de Lygia Clark (1920-1988), artista brasileira mundialmente conhecida, foram retiradas de dentro do Santander e apresentadas ao público de cerca de 300 pessoas que protestavam contra o fechamento da exposição em frente ao museu na tarde desta terça.
Confusão no final do protesto
O protesto contra o fechamento da exposição foi pacífico até que um tumulto resultou em ação da Brigada Militar (a PM gaúcha). O conflito ocorreu depois que o blogueiro do MBL, Arthur Moledo do Val, que veio de São Paulo para participar do ato, precisou ser escoltado pela polícia para sair do local. Segundo o tenente-coronel Eduardo Amorim, a polícia jogou bomba de gás lacrimogêneo nos manifestantes porque foram atiradas pedras contra os militares. Dois homens foram detidos e assinaram um termo circunstanciado por desobediência e resistência e depois foram liberados.
O blogueiro paulistano já protagonizou outras polêmicas na capital gaúcha quando foi detido por tumultuar um protesto de servidores municipais e quando abordou a ex-candidata à presidência Luciana Genro (PSOL). A Justiça determinou que Do Val apague o vídeo em que aborda Genro e sua família.
Lei Rouanet
Por ter sido encerrada um mês antes do previsto, o Santander vai devolver ao governo a verba captada pela Lei Rouanet para a mostra “Queermuseu”, em Porto Alegre. A exposição sobre diversidade e temática LGBT foi fechada após críticas de grupos, incluindo o Movimento Brasil Livre (MBL).
Interpretação
O MBL alega que a exposição faz apologia da pedofilia e zoofilia. A coordenadora do MBL, Paula Cassol, não visitou a exposição e nega qualquer tipo de censura. Segundo o curador Gaudêncio Fidelis, o movimento divulgou imagens tiradas do contexto da exposição. São 263 obras no total, incluindo pinturas de Cândido Portinari e Alfredo Volpi, e pelo menos três são alvo de polêmica. “Não tem explicação a maneira como eles distorceram as obras, tirando de contexto. Eles pegaram um detalhe e dizem que é uma pintura. Não é, é uma parte”, disse Fidelis a VEJA . O movimento enxergou zoofilia na obra Cena de Interior II, de Adriana Varejão. Um pedaço da pintura foi destacado e compartilhado nas redes sociais. “A pintura revela o processo destrutivo do colonialismo no Brasil, que envolve algumas questões de sexualidade”, explicou o curador à reportagem.