Jovens montam negócio sustentável de customização de tênis velhos
Casal de Porto Alegre apresentou técnica durante a programação da Semana Fashion Revolution, que debate impacto social da moda
Sem dinheiro para comprar um tênis novo e apegado ao par antigo, Luiz Henrique Bastos Geraldo, de 22 anos, decidiu customizar o próprio tênis. O rapaz pintou uma bandeira dos Estados Unidos seguindo a moda urbana ligada ao hip hop e basquete. Ao caminhar pelas ruas do bairro Restinga, em Porto Alegre, chamou atenção de outros garotos que imaginaram que o calçado era novo – e caro. O tênis reformado deu origem a um negócio, o Arte Customizando.
Agora, Luiz cobra de 80 a 150 reais para deixar um par repaginado. Além de parecerem novos, os calçados ganham cores que lembram murais de grafite, desenhos japoneses e até super-heróis. Um dos mais recentes trabalhos transformou um tênis encardido em branco de novo. Além da tintura, o calçado ganhou ainda o desenho do personagem Pantera Negra, da Marvel, cujo filme conta com um elenco majoritariamente de atores negros.
“Depois do tênis pronto, a autoestima da pessoa vai lá em cima, fica querendo usar, sair na rua para todo mundo ver, é uma coisa bem legal”, contou Luiz a VEJA. Para os jovens negros que apostam em cortes de cabelos ousados e roupas modernas como forma de reforçar a identidade, os tênis são um acessório dessa mensagem cultural, explica o jovem empreendedor. O negócio é administrado também por Kennya Menna Barreto, de 17 anos. O casal também customiza roupas, especialmente jaquetas jeans, que recebem pinturas nas costas.
A customização recupera itens que seriam jogados fora por causa do desgaste do uso. Por dar uma “vida nova” para calçados e roupas que seriam descartados, o casal foi convidado para participar, na última quarta-feira (26), em Porto Alegre, de uma atividade que compõe a programação da Semana Fashion Revolution. Enquanto um grupo discutia sobre moda sustentável, Luiz e Kennya customizavam um calçado.
Os eventos são promovidos no mundo todo com o objetivo de gerar reflexão sobre o impacto social da indústria de moda. O Fashion Revolution é um movimento global que surgiu após a morte de centenas de costureiras em um prédio em Bangladesh, em 2013. Por isso, durante essa semana, diversos debates propõem a questão: “Você sabe quem fez suas roupas?”.
Luiz aprendeu a desenhar e a pintar com um tio, que trabalhava na construção civil e desenhava por hobby. Quando customizou os primeiros pares, o rapaz não sabia que se tratava de uma tendência mundial. Hoje, ele trabalha no próprio quarto e faz pesquisa de referências na internet. Os tênis ficam tão deslocados que há quem pense que são importados e exclusivos.
“A gurizada é muito ligada nessas fotos que rolam na internet. Quando veem um tênis diferente, provavelmente não vão encontrar em alguma loja e, se acharem, vai custar 500 reais”, contou à reportagem.
Por isso, além de sustentáveis por evitarem um descarte desnecessário, os tênis customizados são acessíveis e permite que os jovens se sintam incluídos na moda, sem gastar tanto.