RS é o único estado da região com alta gradativa de assassinatos
Aumento de homicídios no Rio Grande do Sul nos últimos dez anos é exceção no Sul e Sudeste; demais estados com aumento do crime estão no Norte e Nordeste
Segundo o Atlas da Violência de 2018 divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública nesta terça-feira, 5, o Rio Grande do Sul é o único estado da região Sul e Sudeste que “apresentou crescimento gradativo de violência letal nos últimos dez anos” – os outros dez estados com alta gradativa de homicídios se localizam no Norte e Nordeste. Em comparação, São Paulo, por exemplo, apresentou queda de 46,7% na taxa de homicídios. No Rio Grande do Sul, em 2006, a taxa de homicídios a cada 100.000 habitantes era de 18,1. Em 2016, a taxa saltou para 28,6 casos, um aumento de 58%.
Os dados de 2016 se referem ao segundo ano de governo de José Ivo Sartori (MDB). Procurada por VEJA, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) ressaltou que os índices atualizados – a partir de 2017 e, portanto, fora do Atlas – mostram queda nesse tipo de crime (veja nota completa abaixo). O governo também ressaltou que o estado ocupa a “20ª posição entre as 27 unidades da Federação em relação a homicídios”. O estado vive uma grave crise financeira com parcelamento sucessivo nos salários dos policiais militares e civis – Judiciário e Legislativo recebem normalmente.
Outro número revelado pelo Atlas da Violência com crescimento significativo foi a taxa de assassinato de negros no estado, que aumentou 93,4%, de 19,1 casos a cada 100.000 pessoas em 2006 para 36,8 homicídios a cada 100.000 moradores em 2016. Em São Paulo, a taxa de homicídios de negros caiu 47,7% no mesmo período.
O número total de homicídios de mulheres também aumentou no Rio Grande do Sul. A alta de assassinatos de mulheres foi de 90,1%, de 162 casos em 2006 para 308 casos em 2016. Em São Paulo, no mesmo período foi de queda de 35,7%.
Entretanto, o governo gaúcho disse, por meio de nota, que “os indicadores não podem ser questionados de forma isolada” e que são fornecidos à pesquisa do Atlas pela própria secretaria de segurança.
Uma pesquisa divulgada no início do ano confirma o quadro de insegurança no estado revelado pelo Atlas da Violência. A 1ª Pesquisa de Vitimização de Porto Alegre, desenvolvida pelo Instituto Cidade Segura e realizada pelo Instituto de Opinião Pública (IPO), mostrou que 23,4% dos residentes de Porto Alegre maiores de 16 anos já tiveram, ao longo de suas vidas, a experiência de um familiar assassinado, o que significa, aproximadamente, 279 mil pessoas.
O contexto de violência, segundo os dados do IPO, faz com que 33,9% sofram de ansiedade por conta da insegurança, 33,2% sentem pânico ao imaginar um familiar como vítima, 23% têm dificuldade de dormir preocupados com familiares ou segurança pessoal e 7% têm pesadelo com cenas de violência.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera uma epidemia de assassinatos quando são registrados mais de dez casos a cada 100.000 habitantes. Em 2016, Porto Alegre registrou 55,6 homicídios a cada 100.000 habitantes conforme reportagem de VEJA – a cidade, vive uma epidemia de homicídios segundo o órgão.
Diante deste cenário, 55 empresários da capital decidiram se mobilizar e doaram 14 milhões de reais às polícias gaúchas para a compra de novos veículos, armamentos, coletes à prova de bala, GPS e rádios para comunicação.
Nota da SSP do RS:
“O Atlas da Violência coloca o Rio Grande do Sul na 20ª posição entre as 27 unidades da Federação, em relação a homicídios – com uma taxa inferior à média nacional. Entretanto, é preciso levar e conta que são dados de 2016, pois sempre haverá uma defasagem em virtude do tempo gasto para a realização de estudos deste porte.
Sendo assim, lembramos que os indicadores dos principais crimes aferidos pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) vêm apresentando queda há pelo menos um ano. Em 2017, os homicídios reduziram 1,5%. No primeiro quadrimestre de 2018 a queda é ainda superior: 25,9%. A tendência, desta forma, é que o RS se mantenha entre os Estados com os menores indicadores do país.
Cabe ressaltar que os dados que abastecem o Fórum Nacional da Segurança Pública são os oriundos da própria SSP, uma vez que eles realizam seus estudos com base em estatísticas oficiais. Sendo assim, os indicadores possuem a mesma origem e não podem ser questionados de forma isolada”.